As conclusões do estudo vão ser divulgadas num podcast com 18 episódios, em português e francês, através da plataforma reimaginaraeuropa.ces.uc.pt, em que académicos e artistas refletem sobre a Europa pós-imperial e as heranças coloniais.

 "Em Memória da Memória: Interrogações e testemunhos pós-imperiais" faz parte do projeto de investigação MAPS – Pós-Memórias Europeias: Uma Cartografia Pós-Colonial, coordenado pela investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES), Margarida Calafate Ribeiro.

"Neste podcast, quisemos mostrar qual é que tinha sido afinal o impacto desta reflexão comum, entre académicos, cidadãos comuns, artistas, escritores, belgas, portugueses e franceses", afirmou a investigadora, em declarações à Lusa.

A ideia do podcast foi tornar as conclusões de cinco anos de trabalho de investigação acessíveis ao público em geral, "porque é essa também a obrigação da academia", para ajudar a "construir um futuro melhor com responsabilidade histórica e sem culpabilizações", referiu.

Os episódios contam as histórias de cidadãos que partilham "memórias muito diferentes de uma história comum" e que vêm de alguma forma "reclamar o seu lugar, a sua história e a sua memória para que a narrativa seja mais complexa", de forma a incentivar o diálogo Europa-África.

As gerações que não têm memória do trauma associado ao colonialismo, embora enfrentem muitas vezes "fantasmas imperiais mal resolvidos", conseguem entender circunstâncias históricas complexas, que envolveram muitas vezes os seus familiares.

"Um dos grandes aspetos das pós-memórias de segunda geração, é ver tudo isto em termos de complementaridade, de transnacionalidade e de transterritorialidade", afirmou Margarida Calafate Ribeiro, referindo-se a quem sente que pertence a dois países, os chamados afro-europeus.

Para a investigadora, aliar a arte ao projeto é fundamental pela "capacidade de antecipar muitos movimentos sociais e de ser capaz de emocionar".

O penúltimo episódio, intitulado "Herdar o império", tem a presença do artista visual e curador congolês Aimé Mpane, que seguiu os ensinamentos do seu pai, Placide Mpane, famoso escultor durante o período colonial.

Aos 24 anos, Aimé Mpane foi estudar para a Bélgica, onde foi confrontado com o racismo, mas percebeu que tinha de estar na Europa para conseguir viver da arte. Atualmente, vive entre a Bélgica e a República Democrática do Congo (RDCongo) e as suas obras tem influências dois países e das suas culturas.

"Quando estou no Congo, tenho outra motivação porque tenho sempre a impressão de que é a vida em bruto, é preciso lutar por tudo e redescubro as minhas origens", afirmou o artista, em declarações à Lusa.

A memória colonial na RDCongo "é quase ignorada, há demasiados vestígios, mas ninguém lhes presta muita atenção".

As suas obras pretendem "despertar as pessoas, de geração em geração, para o equilíbrio e a horizontalidade das relações entre as culturas e entre as pessoas para que possam permanecer no mesmo nível".

"Gostaria que pudéssemos respeitar-nos uns aos outros e manter os valores humanos para podermos debater e dialogar juntos", finalizou Aimé Mpane.

O podcast, financiado por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto MAPS, foi realizado por Inês Nascimento Rodrigues, investigadora do CES.

Este trabalho, que acaba por ser uma forma de comemorar o 25 de Abril pela sua origem em África, já está disponível nas plataformas.

Além do podcast, o projeto coordenado por Margarida Calafate Ribeiro realizou a exposição internacional "Europa Oxalá", que passou por Portugal, Bélgica e França, e que integra ainda a publicação de livros, artigos científicos e uma newsletter.