Designado de “Unidade Municipal de Emprego e Autonomia”, o espaço foi hoje inaugurado pela Câmara Municipal de Lisboa, em parceria com a Crescer - Associação de Intervenção Comunitária, que vai ser responsável pelo projeto, disponibilizando nove quartos, dos quais seis com duas camas, cozinha, sala, lavandaria e casas de banho partilhadas.
“Hoje estamos a abrir aqui um projeto inovador”, afirmou o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), explicando que a ideia é “dar casa” às pessoas em situação de sem-abrigo que já estão a trabalhar, ajudando-as por um período médio de seis meses até encontrarem uma solução habitacional para que “possam ser autónomas”.
O autarca explicou ainda que as pessoas que ficarem neste espaço tem de dar 30% do seu rendimento por mês, mas esse valor é devolvido quando saírem: “Com esse dinheiro já podem pagar uma entrada ou uma caução para um contrato de arrendamento”.
Além do alojamento temporário, o espaço tem uma sala para atendimento e acompanhamento social, acompanhamento psicológico e procura ativa de emprego e/ou de habitação.
O imóvel, gerido pela empresa municipal Gebalis - Gestão do Arrendamento da Habitação Municipal de Lisboa, estava vazio e foi alvo de obras para implementar o projeto, dando dignidade ao espaço para “que as pessoas sintam que estão na sua casa”.
“A habitação tem sido sempre a nossa prioridade, mas juntamente com a habitação temos as pessoas em situação de sem-abrigo”, afirmou Carlos Moedas, destacando o Plano Municipal para a Pessoa em Situação de Sem-Abrigo (PMPSSA), que prevê um investimento de 70 milhões de euros em sete anos, entre 2024 e 2030, com 81 medidas.
O presidente da câmara defendeu que é que preciso “mudar estrategicamente” a resposta às pessoas em situação de sem-abrigo, através da prevenção e da inserção social, considerando que o projeto inaugurado hoje pode ser o início de “um novo ciclo” para responder a esta problemática.
“Espero que noutras partes da cidade possamos continuar este projeto. Vamos continuá-lo seguramente, porque é este o caminho, é a integração através do trabalho e através da habitação”, declarou.
O autarca disse ainda que após a pandemia de covid-19 houve “um aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo”, que afeta também “muitos estrangeiros […], que muitas vezes não têm documentação, e aí há um papel muito importante do Estado central”.
“Não podemos receber imigrantes sem lhes trazer dignidade”, defendeu.
O diretor executivo da associação Crescer, Américo Nave, realçou a importância de “diferenciar as respostas” às pessoas em situação de sem-abrigo, para “não estarem todos nas mesmas respostas”, porque há pessoas que estão a trabalhar, pessoas que não estão a trabalhar, pessoas que têm doença mental ou pessoas que têm comportamentos aditivos.
“Esta resposta vai responder a um grupo muito específico: são pessoas que fazem um enorme esforço para ficarem autónomas”, apontou Américo Nave, referindo que o projeto surgiu porque “muitas pessoas” que estão a trabalhar nos restaurantes da associação Crescer “têm muita dificuldade em ter um teto, de ter uma habitação e têm um esforço enorme para poderem trabalhar diariamente”.
O espaço no Bairro do Armador, na freguesia lisboeta de Marvila, vai começar a acolher pessoas a partir da próxima semana, mas a ocupação será gradual, para que haja tempo de habituação entre as várias partes envolvidas, inclusive uma assistente social e um psicólogo da Crescer, equipa que tem de se preocupar com as questões do emprego, da habitação futura, do acesso à saúde e de “desconstruir todas as barreiras que possam estar a dificultar a autonomia das pessoas”.
A vereadora dos Direitos Humanos e Sociais, Sofia Athayde (CDS-PP), contou que o projeto surgiu após uma visita numa zona com muitas pessoas em situação de sem-abrigo e reforçou que o que se pretende é dar uma pré-autonomia para que, depois, se possam autonomizar.
Presente na inauguração, o presidente da Junta de Freguesia de Marvila, José António Videira (PS), agradeceu o trabalho do presidente da Câmara de Lisboa e sublinhou que, apesar de serem de cores políticas diferentes, ambos priorizam a resposta às pessoas.
“Foi muito fácil dizer à minha população porque é que vinha para aqui uma unidade de emprego e autonomia. Porque não vêm para aqui os sem-abrigo, vêm para aqui pessoas de carne e osso, que têm de ser acolhidas, que têm de ser integradas, e que tem de haver por parte de comunidade gestos de solidariedade nestes tempos difíceis em que vivemos”, declarou o socialista.
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