Tem simpatia por Salazar, mas não é salazarista. Aliás, as suas referências políticas vão de nomes tão distantes quanto são os de Charles de Gaulle, Hugo Chávez e Evo Morales, nomes que considera terem em comum o que fizeram"pela dignificação dos seus povos". Rafael Pinto Borges, um dos fundadores do grupo Nova Portugalidade que organizou a conferência com Jaime Nogueira Pinto intitulada “Populismo ou Democracia: O Brexit, Trump e Le Pen” que ontem foi cancelada pela direção da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), militou até há pouco tempo no CDS, partido que trocou pela Juventude Popular onde faz parte do Gabinete de Estudos. A Nova Portugalidade, garante, é um movimento que repudia o racismo, a xenofobia e o colonialismo e que se afasta da globalização da economia para "abraçar" a da cultura. Na base da sua atuação, está a premissa que "os países de civilização portuguesa - aqueles que connosco se encontraram ao longo da História - formam uma só família humana".
A Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (AEFCSH) diz que o que motivou a moção e o pedido de cancelamento de reserva da sala destinada à conferência com Jaime Nogueira Pinto é o "cariz ideológico nacionalista e colonialista do núcleo que o promove e que se refere de forma indireta à descolonização no seu manifesto como ‘trágico equívoco". A Nova Portugalidade é nacionalista, colonialista e considera a descolonização um trágico equívoco?
Claro que não. Como atestará qualquer visita à Nova Portugalidade, o movimento execra toda a forma de colonialismo e censura qualquer ideologia que divida os homens. Não rejeitamos ou lamentamos a globalização: afastamo-nos da globalização da economia para abraçarmos a da cultura, e consideramos que os países de civilização portuguesa - aqueles que connosco se encontraram ao longo da História - formam uma só família humana. Sentimos estar Portugal mais próximo histórica, cultural e sentimentalmente de Timor que de Budapeste, e é a destruição desses laços que vemos como "equívoco".
A Nova Portugalidade conhece só e apenas o objetivo de trabalhar paciente e desinteressadamente pelo bem de Portugal e da Portugalidade
O que pretendemos é dar a conhecer esta ideia, propondo outras que a facilitem, enquanto movimento transnacional. Estamos presentes no Brasil, onde temos largas dezenas de membros, e desejamos expandir-nos pela totalidade da Portugalidade. Em Portugal, os nossos membros pertencem às mais diversas forças políticas. Eu sou militante da Juventude Popular e, até recentemente, do CDS, mas outros membros ou colaboradores próximos há que militam no PSD, no PS, no MPT e no PCP.
Suspeito que o rumor absurdo e estritamente falso de alguma ligação ao PNR será nova invenção da AE para denegrir-nos. A Nova Portugalidade não teve, tem ou terá jamais o mais leve relacionamento com esse partido, que consideramos racista, xenófobo e contrário à sensibilidade portuguesa, necessariamente aberta e tolerante. A Nova Portugalidade não poderia defender a existência de uma fraternidade de povos na Portugalidade sem, como faz, censurar total e radicalmente todos os semeadores de ódio. Fá-lo também, e especialmente, com o PNR e reitera não dirigir-lhe mais que repulsa.
Concretamente falando de si. É pública a sua simpatia por Salazar. É para si uma referência politica? Que outras tem?
Eu sinto estima pessoal, política e intelectual por Salazar. Não sou salazarista. Considero-o, como António José Saraiva, um homem notável; julgo-o uma inteligência superior, um magnífico escritor e um patriota dedicado. Contesto e lamento, naturalmente, os abusos praticados pelo seu regime, mas recordo que os governos não são perfeitos e que Salazar, tendo sido contemporâneo de Franco, Estaline ou McCarthy, não terá sido o único - e, muito menos, o pior - líder ocidental a violar direitos políticos. Salazar será, pois, uma referência em tudo - o inegável patriotismo, a dedicação ao bem do Estado, a atenção às finanças sãs, a grande dignidade pessoal - o que teve de positivo e merecedor de crítica feroz nos abusos que permitiu.
Eu sinto estima pessoal, política e intelectual por Salazar. Não sou salazarista
Eu tenho grande número de referências políticas, e creio que os homens não podem ser dissociados da sua circunstância. Sinto admiração por Hugo Chávez e Evo Morales, que julgo muito terem feito pela dignificação dos seus povos. Sinto, sobretudo, uma imensa afinidade pessoal e ideológica por Charles de Gaulle, com quem partilho o fundamental da minha mundivisão política: um Estado soberano e independente, desalinhado na política externa, com forte intervenção na economia e comprometido com a protecção social dos cidadãos.
Cancelada a conferência, o que se segue? De alguma forma este cancelamento como aconteceu pode ter ajudado a dar mais visibilidade ao vosso grupo (a julgar pela vossa página de Facebook diria que sim)?
Propusemos à FCSH um debate sério, sereno, adulto sobre o tema dos populismos. A campanha difamatória de que a Nova Portugalidade e eu fomos alvo é escandalosa, envergonha a democracia e é indigna de uma universidade livre. Tentaremos reagendar a breve trecho o evento e, quando o fizermos, oportunamente o anunciaremos.
Propusemos à FCSH um debate sério, sereno, adulto sobre o tema dos populismos
A visibilidade será, naturalmente, coisa positiva à vida de qualquer movimento, mas não trabalhamos para conseguir uns minutos de atenção mediática. A tarefa que nos reconhecemos é muito longa e muito difícil, pois consiste em recordar os povos da Portugalidade de tudo quanto os aproxima e faz irmãos.
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