A manifestação foi organizada pelo Observatório de Violência Obstétrica (OVO), tendo exibido cartazes com palavras de ordem como “O Parto é Meu”, “O Útero, eu Decido!” e “Dona do Meu Parto”, e ao protesto juntou-se a SEMANE – Saúde da Mulher Negra, que deu exemplo de casos de racismo, nos cuidados médicos.
Uma das organizadoras, Lígia Morais, da OVO, em declarações à agência Lusa, reconheceu que “são baixas as queixas oficiais” por violência obstétrica, e referiu que, “aos poucos, a sociedade está a perceber o que é realmente a violência obstétrica”, pois “nem todas as mulheres conseguem identificar que tiveram violência obstétrica no seu parto ou nas consultas de obstetrícia ou até em tratamentos de fertilidade ou na interrupção voluntária da gravidez”, o que justifica também a baixa adesão ao protesto de hoje.
“Nós sabemos que nem toda a gente tem coragem de se apresentar e dizer que foi vítima”, disse Lígia Morais adiantando que o observatório tem estado a divulgar informação de como se pode efetuar queixa de violência obstétrica.
Uma das manifestantes disse à Lusa que essa violência é por vezes exercida de “forma subtil”.
Lígia Morais referiu que “a forma mais leve é subtil”. E exemplificou: “Muitas mulheres ouvem reparos como ‘Você está a gritar, mas na altura que esteve a fazer o seu filho gritava assim?’ ou ‘você não sabe parir’, ‘a rapariga do lado já teve o bebé, e você ainda está aqui!'”
“Estas situações são uma agressão, mas as pessoas não identificam, as mulheres pensam ‘ok, eu tenho de fazer melhor'”, sublinhou a responsável.
“O parto tem o seu tempo, e precisamos de respeito pela mulher”, frisou Lígia Morais.
Sobre o anunciado fecho de algumas maternidades, em janeiro próximo, pelo Governo, a OVO quer saber “quais as condições que terão as mulheres para se organizarem em termos do parto em si”.
Outra reivindicação da OVO é a criação de “centros de parto” nos hospitais, para um melhor acompanhamento das grávidas.
“Os Centros de Parto são inseridos nos hospitais, transformando o que existe, mas havendo uma divisão entre gravidezes de baixo risco e alto risco; as primeira acompanhadas por enfermeiros especialistas e, as de alto risco, por obstetras. Desta maneira conseguiremos trabalhar conjuntamente nas necessidades destas mulheres”, explicou Lígia Morais.
A responsável disse que a Comissão Parlamentar de Saúde tem tido conhecimento de todas as posições e atividades da OVO, que vai apresentar um pedido formal para ser ouvida.
A presidente da SEMANE – Saúde da Mulher Negra, Carolina Coimbra, que dá exemplo de casos de racismo nos cuidados médicos às mulheres negras, disse à agência Lusa: “Esta luta também é nossa”.
Carolina Coimbra afirmou que “há mulheres negras que sofrem racismo e violência obstétrica” e são discriminadas no tratamento. A responsável afirmou: “Acham as mulheres negras mais resistentes à dor, e são as últimas a levar [anestesia] epidural”.
“Acham que as mulheres negras têm muitos filhos e são convidadas a laquear as trompas – às vezes ainda só têm um filho. Acham também que não têm planeamento familiar, e existe ainda o estigma quando há uma perda espontânea [do feto], acham que as mulheres tomaram alguma coisa para provocar a perda”.
A SEMANE projeta apresentar estas situações, oficialmente, ao parlamento.
Hoje, a OVO convocou igualmente ações “simbólicas de solidariedade com as mulheres que sofreram Violência Obstétrica”, para as cidades de Bragança, Coimbra, Faro, Leiria, Porto, Viana de Castelo e Viseu.
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