Foi na noite de 27 de novembro, em que derrotou o eurodeputado Paulo Rangel, alcançando 52,4% dos votos (1.746 votos, a mais curta distância de sempre), que Rio deixou a convicção, pouco habitual num líder que prefere partir de baixas expectativas eleitorais.

"Já tirei o curso, estou doutorado e vou dizer como gosta que se responda: eu vou ganhar!", afirmou, quando questionado pelos jornalistas sobre cenários de vitória do PS em 30 de janeiro.

Quando foi eleito pela primeira vez presidente do PSD, em janeiro de 2018, Rio sempre admitiu que as legislativas de 2019 seriam difíceis de vencer e apontou, a essa distância, as autárquicas de 2021 como o seu maior desafio.

Nas presidenciais de janeiro de 2021, foi reeleito Marcelo Rebelo de Sousa, que recebeu desta vez o apoio expresso do PSD e não apenas uma recomendação de voto, como tinha acontecido cinco anos antes, eleição que Rio inclui entre as vitórias eleitorais no seu currículo.

A reta final de preparação para as decisivas autárquicas começou no primeiro trimestre do ano e em fevereiro foi divulgado o primeiro candidato, antes do tempo devido a uma fuga de informação: Carlos Moedas deixava o lugar de administrador da Fundação Gulbenkian para assumir o desafio de conquistar a Câmara de Lisboa ao socialista Fernando Medina.

Moedas foi a principal surpresa nos nomes anunciados e viria a sê-lo também na noite eleitoral, com uma vitória inesperada perante todas as sondagens publicadas nos meses e semanas anteriores.

Nessas eleições, o PSD ficou em segundo lugar, mas conseguiu inverter os piores resultados de sempre de 2013 e 2017, encurtar quase para metade a distância em número de municípios para o PS e, além de Lisboa, conquistar outras câmaras importantes como Coimbra, Funchal e Portalegre.

Na madrugada eleitoral de 27 de setembro, Rui Rio considerou os resultados como “excelentes” e davam ao PSD “melhores condições” de vencer as próximas legislativas, mas sem querer confirmar logo que seria recandidato à liderança do partido.

Os sinais de que o eurodeputado Paulo Rangel seria candidato a presidente do PSD foram-se avolumando e o anúncio chegou cerca de duas semanas depois, num conselho nacional marcado para 14 de outubro para fixar o calendário eleitoral interno.

No entanto, as palavras do Presidente da República, um dia antes, de que poderia estar iminente uma crise política e que um ‘chumbo’ do Orçamento do Estado significaria eleições antecipadas, levaram Rui Rio a tentar travar a fundo, com uma proposta aos conselheiros para que se suspendesse o processo eleitoral interno até à votação do documento.

O conselho nacional discordou e, por uma larga maioria, marcou diretas e congresso, em datas que viriam a ser mais tarde todas antecipadas por se ter confirmado a crise política e a marcação de legislativas antecipadas para 30 de janeiro.

A campanha interna para a presidência do PSD acabou por ficar marcada pela proximidade de eleições para o país, e Rio foi repetindo o argumento de que o seu opositor interno não estaria preparado para ser primeiro-ministro em apenas 60 dias.

O tema da governabilidade esteve quase sempre no centro das diferenças entre Rio e Rangel: o presidente do PSD foi manifestando abertura para entendimentos com o PS que permitissem viabilizar governos minoritários de um ou de outro para, pelo menos, meia legislatura, enquanto o eurodeputado nunca esclareceu se viabilizaria um Governo minoritário do PS, rejeitando teorizar sobre cenários em que o PSD fica em segundo lugar.

Depois de vencer as diretas, Rio disse querer colocar um “ponto final parágrafo” nas questões internas e avançar para o capítulo do país, mas pela frente ainda tinha a missão de concluir as listas de deputados, que, apesar da exclusão muitos nomes indicados pelas estruturas locais e que tinham apoiado Paulo Rangel, acabaram aprovadas na madrugada de quarta-feira em Conselho Nacional por 71%.

A coligação pré-eleitoral com os democratas-cristãos foi uma possibilidade admitida por Rio quase até às vésperas do conselho nacional de Évora, mas a maioria da comissão política nacional voltou a considerar que era mais vantajoso o PSD ir a votos sozinho e o tema já nem sequer foi levado aos conselheiros.

Entre 17 e 19 de dezembro, realizou-se o 39.º Congresso do PSD, cujo local foi alterado da FIL em Lisboa para o Europarque de Santa Maria da Feira (Aveiro) por permitir maiores adaptações às restrições impostas pela pandemia de covid-19 e ser mais barato.

Se perder as legislativas, Rio já disse que “em função das circunstâncias” avaliará “o que é melhor para o partido”, deixando antever que uma eventual demissão só acontecerá se o PSD não puder contribuir para a governabilidade do país.