Em entrevista difundida hoje pela RTP 3, Rui Rio traçou vários cenários para as próximas legislativas, colocando a maioria absoluta em primeiro lugar e o afastamento da extrema-esquerda da esfera da governação como terceiro cenário.
"Primeiro objetivo de um partido como o PSD: ganhar as eleições legislativas, seja quando forem, com maioria absoluta; segundo objetivo, ganhá-las. - não consegue a maioria absoluta, mas ganha-as. Neste espaço concreto, terceiro objetivo, que é uma coisa que de certa forma não existia há 20 anos atrás, procurar que a dependência da governação não esteja na extrema-esquerda, mas esteja no parlamento como um todo", explicitou.
Apesar de apontar para a “maioria absoluta”, o líder eleito dos sociais-democratas destacou “traços comuns” entre o PSD, CDS e PSD que deveriam ser aproveitados, em nome dos interesses do país.
“Entre o CDS, o PSD e o PS há traços comuns que o país ganhava muito que fossem aproveitados no sentido do interesse nacional e não incentivar às vezes diferenças artificiais só para parecer muito diferente. O país tem perdido com isso”, sustentou.
Rui Rio, que assumirá a liderança em 18 de fevereiro, garantiu que não transferirá a sede nacional do PSD para o Porto, trabalhando por isso a partir de Lisboa, embora insistindo que o poder está “muito enquistado no mesmo sítio”, na capital, o que cria “teias de poder que são prejudiciais”.
Assumiu-se, neste contexto, “desamarrado” de todo o tipo de interesses, podendo assim contribuir para um salto qualitativo na governação do país.
“Se eu tiver a arte, o engenho e a seriedade para continuar desamarrado, livre para poder decidir, acho que isso é um bem inestimável para o país”, acentuou.
Quanto à composição dos futuros órgãos nacionais, Rio disse que está a “arrumar os nomes na cabeça”, o que passa também por “falar com outras pessoas”.
De qualquer forma, advertiu que “construir a alternativa” passa por uma relação “com a sociedade toda” e chegou a admitir que “há elementos dentro do PSD que não estão devidamente aproveitados e que podem dar um contributo muito grande” para esse caminho.
“É vital ir buscar pessoas fora do PSD”, salientou Rui Rio, indicando que a construção da alternativa passa por um trabalho que vai ser “pensado e consensualizado com a equipas que vão ser criadas pelo país todo”, argumentou.
Sobre o facto de o primeiro-ministro e líder do PS, António Costa, ter dito que será mais fácil trabalhar com Rui Rio do que com Passos Coelho, o líder eleito dos sociais-democratas justificou: “O doutor António Costa e o doutor Passos Coelho têm uma relação política e pessoal muito difícil”
“Se tivesse ganho o doutor Santana Lopes, penso que o doutor António Costa teria feito o mesmo comentário”, acrescentou.
Rio prometeu continuar a não ser politicamente correto, afirmando que, apesar de isso dificultar a eleição, dá uma liberdade maior para depois decidir.
“As campanhas eleitorais são absolutamente decisivas para os graus de liberdade que se vai ter a seguir”, sublinhou, utilizando depois uma metáfora para justificar a sua posição de que a criação de falsas expectativas pode criar embaraços: “É preciso namorar bem para que o casamento dê certo”.
O novo líder social-democrata rejeitou o epiteto de teimoso, afirmando que é apenas convicto.
“Não me considero teimoso. Bem pelo contrário, até cedo com muita facilidade. Mas há coisas de princípio que são verdadeiramente estruturantes e às quais não cedo”, afirmou.
Rio mostrou-se ainda convicto de que a sua relação com a Comunicação Social nacional será “mais fácil” do que aquela que teve quando presidiu à Câmara do Porto, até porque nessa altura os jornalistas constituíram-se com um foco de oposição e ele deu-lhes gás. “Adivinho tempos mais fáceis. A nível nacional há um pluralismo muito maior”, frisou.
Questionado sobre as parecenças com os ex-líderes do partido Francisco Sá Carneiro e Anibal Cavaco Silva, Rui Rio não as enjeitou.
Em relação a Cavaco, destacou a preocupação com a vertente económica, mas acentuou que a sua “referência política” é o falecido líder do PPD Francisco Sá Carneiro.
“Eu não sou do PSD, eu sou do partido do Dr. Sá Carneiro”, concluiu.
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