Em 2020, foram notificados 870 novos casos de infeção, entre os quais duas crianças, e no ano seguinte 933, entre os quais mais duas crianças, correspondendo a uma taxa média de diagnósticos para o biénio de 8,7 casos por 100 mil habitantes, não ajustada para o atraso da notificação, refere o “Relatório Infeção por VIH em Portugal — 2022”.
Durante os anos 2020 e 2021 foram também diagnosticados 415 novos casos de sida, (dois casos por 100 mil habitantes), revela o documento apresentado hoje publicamente pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
No mesmo período, foram comunicados 298 óbitos em pessoas que viviam com o vírus da imunodeficiência humana (VIH), que provoca a sida, (148 em 2020 e 150 em 2021). Em 24,5% das mortes, o tempo decorrido desde o diagnóstico foi superior a 20 anos e em 19,8% o óbito ocorreu no primeiro ano após o diagnóstico.
Relativamente aos novos casos de infeção, os dados revelam que a maioria corresponde a homens (2,5 casos por cada caso em mulheres), sendo a mediana das idades ao diagnóstico de 39 anos. Em 27,6% dos novos casos os indivíduos tinham 50 ou mais anos
“A idade mediana mais baixa (31 anos) foi apurada em homens que têm sexo com homens (HSH), estes correspondem a 70,1% dos casos diagnosticados em indivíduos de idade inferior a 30 anos”, salienta o documento conjunto da DGS e do INSA divulgado na semana em que se assinala o Dia Mundial da Luta Contra a Sida (01 de dezembro).
Segundo o relatório, a taxa de diagnóstico mais elevada registou-se no grupo etário 25-29 anos, 27,3 casos por 100 mil habitantes, em particular nos homens (45,1 casos/100 mil habitantes).
Em 91,9% dos casos diagnosticados nestes dois anos, a transmissão ocorreu através de relações sexuais, a maioria (51,8%) por contactos heterossexuais e 40,2% em homens que têm relações sexuais com homens (HSH). Os casos em utilizadores de drogas injetadas corresponderam a 2,3% do total.
A residência de 48,9% dos indivíduos situava-se na Área Metropolitana de Lisboa (15,3 casos/100 mil habitantes) e a região do Algarve apresentou a segunda taxa mais elevada de diagnósticos (9,3 casos/100 mil habitantes).
Portugal foi indicado como país de naturalidade na maioria dos casos (53%). Dos 820 casos que referiam ter nascido noutro país, 47,2% eram originários de países situados na África Subsariana e 40,9% de países da América Latina.
“Observa-se uma tendência crescente nas proporções de diagnósticos tardios que acompanha o aumento da idade à data de diagnóstico, atingindo o valor de 71,3% nos casos com idades de 50 ou mais anos ao diagnóstico”, salienta.
Desde 1983 até 31 de dezembro de 2021, foram identificados em Portugal 64.257 casos de infeção por VIH, dos quais 23.399 atingiram o estádio de sida e ocorreram 15.555 óbitos.
Até 31 de dezembro de 2021 foram diagnosticados e notificados, em Portugal, 633 casos de infeção por VIH em crianças com menos de 15 anos à data do diagnóstico, indica o relatório, ressalvando que 92,6% destes casos foram diagnosticados há mais de uma década e que as medidas implementadas em Portugal para a prevenção da transmissão vertical resultaram num decréscimo dos novos casos em crianças.
Entre 2012 e 2021, observou-se uma redução de 48% no número de novos casos de infeção por VIH e de 66% em novos casos de sida, valores provisórios uma vez que os totais relativos a 2021 não estão ajustados para o atraso na notificação.
No mesmo período, observou-se que em 55,4% dos casos o diagnóstico foi tardio.
“Não obstante a tendência decrescente sustentada, Portugal continua a destacar-se pelas elevadas taxas de novos casos de infeção VIH e sida entre os países da Europa Ocidental”, refere o relatório, salientando que “o elevado número de novos diagnósticos” em HSH com idades jovens continua a justificar um “forte investimento no desenho, implementação e alargamento de medidas preventivas dirigidas a esta população”.
Defende ainda que “a elevada percentagem de diagnósticos tardios, com particular expressão entre os homens heterossexuais e as pessoas com 50 ou mais anos, valida a necessidade de compreender melhor as razões e incrementar o desenvolvimento de ações dirigidas à prevenção da transmissão e promoção do diagnóstico precoce dirigidas a essas populações específicas”.
Este relatório resulta de um trabalho de colaboração entre a DGS, o INSA, a Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), os hospitais e os seus profissionais, assente num processo de recuperação das notificações de novos casos de infeção VIH em atraso, na sequência de constrangimentos que marcaram a pandemia de covid-19, adiantam em comunicado.
Por esta razão, estão disponíveis, excecionalmente no mesmo relatório, os dados dos últimos dois anos.
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