![Que cheiro é este em Lisboa?](/assets/img/blank.png)
“Hoje aconteceu-nos uma situação muito semelhante àquilo que aconteceu o ano passado, por volta desta altura, em que acordámos todos com esta perceção de odor a acre/azeitonas, que nós consideramos que possa ter como sua fonte emissora as tais fábricas de processamento de bagaço de azeitona localizadas mais a sul, nomeadamente na zona do Alentejo”, disse à Lusa a investigadora Sofia Teixeira.
De acordo com a especialista do departamento de qualidade do ar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa a perceção fica a dever-se a condições meteorológicas “muito específicas”, neste caso, “ventos de quadrante do sudeste, o que nos dá logo uma dispersão das massas de ar e dos compostos odoríficos para uma zona mais a norte, como Lisboa e Vale do Tejo”.
Sofia Teixeira explicou também ter havido a junção de um outro fenómeno “de inversão térmica entre a meia-noite e as nove da manhã, que resultou naquilo que nós chamamos de efeito capacete, em que estes compostos ficam aprisionados em camadas mais baixas da atmosfera e conseguimos facilmente, com os nossos narizes, detetar este odor que nos estava a provocar algum incómodo”.
De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a situação de “fraca dispersão da atmosfera, conjugada com a ocorrência de vento fraco do quadrante sudeste” levaram a concentrações de compostos odoríferos na região da Grande Lisboa, situação que “melhora da parte da tarde”, mas que pode “de novo ocorrer na próxima madrugada, mas com menor intensidade”.
Segundo a APA, a monitorização “em contínuo e em tempo real” da qualidade do ar nas estações da rede, “não revela qualquer problema ao nível dos poluentes medidos com efeitos na saúde”, garantindo estar em “vigilância continua da qualidade do ar”.
Para a investigadora, a preocupação é “apenas para a incomodidade” do cheiro e o questionamento do que se pode fazer ao ar livre por estar a percecionar o mau odor, no entanto, considera que deviam ser estudadas as populações que estão mais expostas às fontes emissoras.
“Acho que isso era importante. Efetivamente devíamos estudar as populações que residem ou que estão mais expostas, que são as que estão próximas destas fontes emissoras. Tal como seria também importante que pudéssemos ter algum normativo ou algum guia que pudesse orientar, quer a academia, quer os cidadãos ou quer mesmo as próprias indústrias, do que é que se possa fazer relativamente a esta questão dos odores”, frisou.
Sofia Teixeira lembrou que em Portugal não existe “nenhum enquadramento na legislação de qualidade do ar” nesta temática dos odores, ao contrário de outros países europeus que já dispõem de normativos específicos nesta matéria, e que podiam ajudar a minimizar estes impactos.
Neste momento, como não há nenhuma obrigação legal, a investigadora adiantou que “só mesmo pela boa vontade é que se podem criar algumas estratégias ou algumas medidas de ajustamento de produções quando os regimes de vento estão de determinados quadrantes”.
“Mas é um bocadinho pela boa vontade e não por aquilo que esteja no normativo, ou num guia, ou que esteja estudado e pensado para o tipo de indústria em questão à semelhança de outras situações que acontecem em matéria de qualidade do ar”, salientou.
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