“Não é isso que gostaríamos de fazer, como é lógico, com qualquer órgão de comunicação social”, disse Magina da Silva aos jornalistas à margem da inauguração do Museu da Polícia de Segurança Pública em Lisboa.
Questionado sobre se a decisão foi motivada por um mal-estar entre os elementos da polícia, o responsável rejeitou que fosse esse o motivo.
“O diretor-nacional toma muitas vezes decisões muito difíceis, mas tem de as tomar. Se eu estivesse cá para tentar agradar a todos ia vender gelados em vez de ser diretor da PSP”, observou.
Escusando-se a comentar a decisão, Magina da Silva remeteu explicações para o comunicado divulgado esta semana pela PSP e disse aguardar o resultado do inquérito.
A PSP avançou na segunda-feira com uma queixa-crime ao Ministério Público (MP) por causa do ‘cartoon’ emitido pela RTP, lamentando “juízos ofensivos” e sublinhando que a liberdade de expressão “não é um direito absoluto”.
Em comunicado, a força de segurança revelou então que se queixou também à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), embora a cartoonista Cristina Sampaio não tenha carteira de jornalista (Cristina Sampaio é licenciada em Pintura, ilustradora e artista gráfica), ao considerar que o ‘cartoon’ “propala factos inverídicos, capazes de ofender a credibilidade, o prestígio e a confiança devida à PSP”.
Exibido na passada sexta-feira, na rubrica semanal do coletivo Spam Cartoon na RTP, o ‘cartoon’ animado, intitulado “Carreira de tiro”, mostra um polícia a atirar ao alvo com cada vez mais intensidade. No final, mostra os alvos, que foram escurecendo à medida da agressividade do polícia.
Uma versão ‘estática’ do mesmo ‘cartoon’ foi publicada no domingo no jornal Público.
No sábado, o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes (SNCC) da Polícia de Segurança Pública (PSP) apresentou uma queixa-crime contra os autores do ‘cartoon’, e também contra a RTP, por entender que “há, inequivocamente, uma intenção de vilipendiar todos os polícias, retratando-os como xenófobos e racistas”.
Contactado pela Lusa, o ilustrador André Carrilho, cofundador, juntamente com João Paulo Cotrim, do Spam Cartoon – um microprograma de 30 segundos, com o mesmo nome, no qual a atualidade é vista por ‘cartoons’ -, considerou que a queixa “não faz sentido”, uma vez que o ‘cartoon’ “não tem nada a ver com a PSP nem com a realidade portuguesa”.
“Nós trabalhamos para a RTP desde 2017 e o ‘cartoon’ é sempre feito num contexto de atualidade nacional e internacional, neste caso é internacional. Tem a ver com a ocorrência em França, da morte de um jovem francês às mãos da polícia que depois deu origem a vários tumultos pelo país inteiro”, explicou André Carrilho.
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