O trajeto de Kim Yo-jong é de “emergência de uma líder feminina poderosa e publicamente proeminente” num país “tão dominado por homens”, sendo hoje considerada a mulher mais poderosa da Coreia do Norte, sublinha o investigador sul-coreano, autor do livro “A Irmã”.

Ser “mulher jovem e bonita” traduz uma “grande vantagem diplomática”, argumentou o estudioso, recordando ter sido Yo-jong que impôs a denominada ‘lei da mordaça’ aos vizinhos da Coreia do Sul, que talvez não tivessem acatado tão rapidamente a exigência se esta tivesse partido do “seu irmão menos fotogénico”.

Esta lei criminalizou o envio de panfletos e a troca de qualquer bem considerado valioso para o Norte, como “notas de dólar, pastas de dentes ou barras de sabão”.

No Sul, a população, segundo o escritor, considera a figura de Kim Yo-jong, que dirige “há mais de uma década o poderoso departamento de Propaganda”, como uma espécie de “mensageira da paz e da desnuclearização” e quando a Coreia do Norte reduzir a atual escalada bélica, como tem mostrado a sua história, deverá também ser a protagonista de abordagens diplomáticas aos EUA e à ONU.

À questão sobre se Yo-jong ou se a filha de Kim Jong-un de 11 anos, já mostrada publicamente, podem ascender à liderança da Coreia do Norte, o escritor afirma compreender a posição de muitos sobre ser “simplesmente inconcebível” a hipótese de uma mulher ser líder suprema.

“Mas o que substitui os preconceitos políticos culturais chauvinistas masculinos? É que o poder dever permanecer na família” e o peso de ser descendente direto do fundador, Kim Jong-il num país que na realidade é uma “monarquia absolutista de estilo medieval” argumentou à Lusa.

Notando estar a cometer um “erro gramatical” indicando que a a Coreia do Norte é “unicamente única”, com cerca de 25 milhões de habitantes, Sung-Yoon Lee também notou como o país mantém o quarto maior exército permanente, depois da China, Rússia e dos Estados Unidos, o que espelha a importância do setor militar no país, que recentemente tem realizado vários lançamentos de mísseis e aumentou o tom crítico em relação ao Sul.

Até cerca de 1973, o Norte era mais rico do que o Sul e erradicou primeiro o analfabetismo e apesar de afirmar estar em guerra com os EUA, não há conflito desde 1953. Contudo, sofreu uma “fome devastadora em meados da década de 1990”, tornando-se o “único país industrializado, urbanizado e alfabetizado em tempos de paz” a viver tal tragédia.

“E ao longo das últimas três décadas, todos os anos, de acordo com estudos da ONU sobre insegurança alimentar, a Coreia do Norte está entre os cinco primeiros dos piores casos do mundo”, acrescentou à Lusa.

Para Lee, é “muito estranho, antinatural que esta tragédia deplorável seja causada e sustentada pelo homem” na Coreia do Norte, onde “não é apenas o poder que é hereditário, mas a opressão, a miséria e a fome são transmitidas de geração em geração”.

O especialista recordou ainda como foi “opressiva” a colonização japonesa até 1945, pelo que “ao longo de gerações” os norte-coreanos têm vivido em “opressão, privação, fome, humilhação e sem liberdades básicas”, situação que poderia ser alterada se o atual líder, Kim Jong-un decidisse “usar uma pequena fração da sua fortuna para comprar comida”.

O autor, nascido na Coreia do Sul, afirmou como discorda de ideias feitas que caracterizam os líderes norte-coreanos como “loucos ou não muito inteligentes” ou desejosos de uma “guerra imediata”, preferindo usar caracterizações que passam por “muito astuto” e “muito calculista”.

“Talvez até fabriquem essa estranha imagem de loucura esquisita” estimou.