Com 63 anos, o ‘ayatollah’ Raisi era considerado um ultraconservador e um partidário assumido da lei e da ordem.
Apresentando-se como defensor das classes desfavorecidas e da luta contra a corrupção, Raisi foi eleito a 18 de junho de 2021, na primeira volta de umas eleições presidenciais marcadas por uma abstenção recorde e pela ausência de adversários de peso.
Sucedeu ao moderado Hassan Rohani, que o derrotou nas presidenciais de 2017 e já não podia recandidatar-se, após dois mandatos consecutivos.
Raisi saiu reforçado das legislativas realizadas em março e em meados de maio deste ano, as primeiras eleições nacionais desde o movimento de contestação que abalou o Irão no final de 2022, na sequência da morte de Mahsa Amini, uma jovem detida e espancada até à morte pelos Guardiães da Revolução, por desrespeitar o rigoroso código de vestuário da República Islâmica, porque apesar de envergar o ‘hijab’ (véu islâmico) a cobrir a cabeça, este deixava entrever uma madeixa do seu cabelo.
Perante o resultado eleitoral, o Presidente iraniano congratulou-se com “mais uma derrota histórica infligida aos inimigos do Irão, após os tumultos” de 2022.
O parlamento, que entrará em funções a 27 de maio, será maioritariamente controlado pelos setores conservadores e ultraconservadores que apoiam o seu Governo.
Nos últimos meses, Raisi tinha-se assumido como um firme adversário de Israel, o inimigo declarado da República Islâmica, apoiando o movimento islamita palestiniano Hamas desde o início da guerra de Israel na Faixa de Gaza, a 0 de outubro de 2023.
Assim justificou o ataque sem precedentes lançado pelo Irão contra Israel a 13 de abril deste ano, utilizando 350 ‘drones’ (aeronaves não-tripuladas) e mísseis, a maior parte dos quais foram intercetados, com a ajuda dos Estados Unidos e de vários outros países aliados de Telavive.
Raisi figurava na lista negra dos Estados Unidos de responsáveis iranianos sancionados por “cumplicidade com graves violações dos direitos humanos”, acusações que as autoridades de Teerão rejeitaram, classificando-as como nulas e destituídas de consequências.
Nascido em novembro de 1960 na cidade santa xiita de Machhad, no nordeste do Irão, Ebrahim Raisi passou as últimas três décadas a subir na hierarquia do sistema judicial, depois de ter sido nomeado procurador-geral de Karaj, perto de Teerão, com apenas 20 anos, na sequência da vitória da Revolução Islâmica de 1979.
Tornou-se, em seguida, procurador-geral de Teerão, entre 1989 e 1994, e depois diretor-adjunto da Autoridade Judicial, entre 2004 e 2014, ano em que foi nomeado Procurador-Geral do país.
Em 2016, o líder supremo, Ali Khamenei, colocou-o à frente da poderosa fundação de beneficência Astan-é Qods Razavi, que gere o mausoléu do Imam-Reza em Mashhad, bem como uma vasta carteira de património industrial e imobiliário. Três anos mais tarde, tornou-se diretor da Autoridade Judicial.
Pouco carismático e usando sempre o turbante preto de um “seyyed” (descendente de Maomé), Raisi, com a sua barba branca e óculos discretos, estudou religião e jurisprudência islâmica com o ‘ayatollah’ Khamenei.
Casado com Jamileh Alamolhoda, professora de Ciências da Educação na Universidade Shahid-Behechti de Teerão, com quem tem duas filhas com formação universitária, Raisi é genro de Ahmad Alamolhoda, imã das orações e representante provincial do líder supremo em Mashhad, a segunda maior cidade do Irão.
Sem dúvida consciente de que teria de tentar unir uma sociedade iraniana dividida quanto à questão das liberdades individuais, comprometeu-se durante a campanha eleitoral de 2021 a ser o defensor da “liberdade de expressão” e dos “direitos fundamentais de todos os cidadãos iranianos”, mas, em vez disso, o seu Governo intensificou desde então a repressão contra ativistas, mulheres e críticos do regime.
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