O santuário meteorológico Kisho Jinja, situado em Tóquio, é um dos locais no Japão que tem recebido mais visitantes nos últimos meses, segundo o The Guardian.
Exclusivamente dedicado ao clima, os peregrinos que por ali passam rezam pelo alívio do verão e das temperaturas altas que se fazem sentir ou pedem que os estragos de um tufão que atravesse o país não sejam tão devastadores.
“No Japão costumávamos ter quatro estações: primavera, verão, outono e inverno, mas, recentemente, temos apenas duas... verão e inverno”, disse Yoichi Yamada, um paroquiano com cerca de 50 anos.
“Estou preocupado que o clima anormal notável e o clima instável dos últimos anos estejam a causar grandes perdas na agricultura. Com o calor extremo e as inundações devido às chuvas fortes, estamos a tornar-nos incapazes de colher os nossos preciosos vegetais e frutas. Se esta situação continuar, temo que haverá escassez de alimentos”, explicou.
Por sua vez, Shota Suzuki, de 35 anos, partilha a mesma preocupação: “Estou preocupado com as inundações e outros efeitos das mudanças climáticas”, disse. “Os verões estão a ficar mais intensos e o calor está a afetar as plantações”, acrescentou.
Daishin Kontani, um padre e meteorologista certificado do santuário, contou que o número de fiéis preocupados com a crise climática e a rezar por um clima estável aumentou, sobretudo, nos últimos dois a três anos.
“Nos últimos anos, o Japão viu um aumento de inundações e deslizamentos de terra causados por chuvas fortes”, contou Kontani, que ensina meteorologia a futuros meteorologistas. “Acredito que mais pessoas estão a rezar para que as coisas acalmem um pouco”, disse.
Foi na cidade de Mabashi, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, que o santuário começou a decifrar relatórios meteorológicos enviados de todo o império japonês.
Para melhorar as previsões, os responsáveis procuraram ajuda espiritual a partir de 1944. No entanto, com a ocupação da região em 1945, o santuário foi desmantelado e reconstruído no terreno de Koenji Hikawa, onde, atualmente, se localiza.
No subúrbio ocidental de Suginami, o santuário espiritual é muito popular entre os mais jovens. O mostrador digital, que apresenta as previsões meteorológicas diárias, no portão da entrada atrai, diariamente, um grande fluxo de visitantes.
No Japão acredita-se que uma das divindades consagradas, Yagokoro Omoikaneno Mikoto, controla oito fenómenos meteorológicos, incluindo o sol, as chuvas e as trovoadas. Por essa razão, muitos visitantes escrevem ali os seus desejos de tempo bom durante feriados, casamentos e outros eventos importantes em tábuas de madeira, chamadas "ema".
“Todos precisamos de rezar todos os dias para que os grandes desastres se tornem menores até certo ponto, mesmo que sejam inevitáveis no mundo de hoje”, referiu uma paroquiana, com cerca de 70 anos.
Com as temperaturas recorde que se têm registado no Japão, Koenji Hikawa não é, contudo, o único santuário religioso onde as pessoas rezam pelo clima. Em julho, o templo budista de Gonshoji, também em Tóquio, reviveu um ritual de 700 anos, conhecido como "Mizudome-no-mai", ou dança para parar a chuva, no qual os homens sopram conchas enquanto são encharcados com água. O objetivo é simular dragões, que são considerados os deuses da água no país.
Nos últimos anos, a crise climática atingiu o Japão e aumentou a possibilidade de deslizamentos de terra, inundações e ciclones tropicais mais intensos.
Em julho deste ano, as autoridades médicas alertaram para um índice de insolação "mais grave", afirmando que a exaustão devido ao calor levou ao aumento significativo de mortes, em comparação com anos anteriores. Já este mês, Tóquio foi atingida por chuvas repentinas e imprevisíveis que inundaram estações de comboio e sobrecarregaram as redes de esgotos.
“Os verões ficaram tão quentes no Japão que não podemos mais fazer algumas coisas que costumávamos fazer, e isso pode afetar negativamente a saúde das pessoas”, disse Mikako Matsui, o padre-chefe de Koenji Hikawa. “Como a mudança climática é o resultado de atividades humanas, cabe-nos trabalhar juntos para fazermos algo sobre isto com o conhecimento humano”.
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