“Precisamos urgentemente de construir uma economia baseada nos oceanos, onde a proteção eficaz, a produção sustentável e a prosperidade equitativa vão de mãos dadas. Estas ações devem ser tomadas coletivamente porque o oceano é um bem comum global”, disse o chefe de Estado queniano na abertura da Conferência dos Oceanos, organizada em conjunto por Portugal e pelo Quénia e que hoje começou em Lisboa.

No seu discurso, após ser eleito, juntamente com o homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, Kenyatta defendeu que, se o oceano for gerido de forma mais sustentável, pode "produzir até seis vezes mais comida, gerar 40 vezes mais energia renovável do que atualmente, e ajudar a tirar da pobreza milhões de pessoas em todo o mundo".

"No oceano, portanto, reside um grande risco, bem como uma grande oportunidade. O peso da escolha está em cada um de nós”, afirmou.

O Presidente do Quénia sublinhou ainda que o objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS) 14, que prevê a conservação e uso sustentável dos oceanos, é o mais subfinanciado dos 17 ODS.

“O oceano é o recurso mais subestimado do nosso planeta. A maioria de nós não compreende quão central é o oceano para a existência humana”, lamentou Kenyatta, lembrando, no entanto, que os oceanos cobrem 70% da superfície global e que três mil milhões de pessoas dependem da biodiversidade marinha e costeira.

“O oceano é o lar de cerca de 80% de toda a vida no mundo, sustém quase metade do oxigénio que respiramos e 90% dos bens mundiais são comercializados através dos oceanos”, elencou o chefe de Estado queniano.

Apesar deste potencial, lamentou, “a ação humana colocou os sistemas oceânicos sob imenso stresse”: “Despejamos mais de oito milhões de toneladas de plásticos nos oceanos a cada ano, contaminando pelo menos 700 espécies de vida marinha”.

“Acho bastante surpreendente que tenhamos colocado um recurso tão crítico em risco”, sublinhou.

Recordando que na última década a humanidade acumulou conhecimentos suficientes sobre os riscos e as oportunidades e sobre as ações que devem ser tomadas, Kenyatta lamentou que as ações tomadas não sejam “proporcionais à ameaça que o oceano enfrenta”.

“O sucesso da gestão dos nossos recursos aquáticos globais requer e depende de forma crítica de todos nós trabalharmos juntos. (…) Não podemos continuar a assumir compromissos que não podemos honrar”, alertou.

Reiterando a importância de envolver todas as partes interessadas, o líder queniano sublinhou o papel dos jovens, que “precisam de um lugar na primeira fila nesta discussão”.

E terminou desejando que no futuro se possa olhar para esta conferência em Lisboa “como o lugar onde se dobrou o arco da história e se escolheu com ousadia produzir de forma sustentável e proteger os oceanos”.

Mais de 7.000 pessoas, entre elas representantes de 140 países, alguns ao mais alto nível, participam a partir de hoje em Lisboa na segunda Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, o maior evento de sempre dedicado ao tema.

Depois de há cinco anos ter decorrido em Nova Iorque a primeira conferência, Portugal, em conjunto com o Quénia, organiza o segundo encontro, sob o lema “Salvar os Oceanos, Proteger o Futuro”.