"É verdade que as minhas funções são em Roma, mas como português e como católico, Fátima tem um significado profundo que me enche de sentimentos de alegria poder participar com todos os peregrinos nestas jornadas intensas de oração e de espiritualidade", começou por dizer o cardeal em conferência de imprensa no Santuário de Fátima.
Por isso, D. José Tolentino Mendonça quis, mais uma vez, chegar a Fátima a pé. "Quis vir a Fatima como peregrino. E de facto, com algumas famílias amigas, esta manhã manhã, da zona de Porto de Mós, também eu me pus a caminho a pé e foi assim que cheguei a Fátima", explicou, frisando que "quis sentir aquilo que sentiram todos os peregrinos: aqueles que vão estar este ano no Santuário e a maioria — aqueles que renunciaram a vir e que acompanham através dos meios de comunicação social".
Realçando o papel "fundamental" dos santuários como "lugar-chave", o cardeal lembrou que Fátima "faz uma síntese do que é a religiosidade tradicional dos portugueses e do mundo católico", mas que também é um "lugar de grande modernidade, porque passou para muitos a ser também o lugar de um primeiro contacto com a fé cristã, com a experiência da peregrinação".
No que diz respeito ao conceito de peregrinação, o cardeal referiu que este é "reabilitado" neste tempo de pandemia, olhando para os peregrinos que seguem nas estradas "com motivos muito diferentes no seu coração — às vezes não sabendo bem o que procuram, mas a verdade é que abrem o seu coração a uma experiência espiritual, a uma experiência de Deus, e Fátima oferece essa possibilidade de um encontro, porque é uma grande igreja, uma grande praça que não tem portas e todos podem entrar".
Frisando que é necessário descobrir "instrumentos de reconstrução do mundo", D. José Tolentino Mendonça disse que "esta crise começa por ser sanitária mas depois é uma crise poliédrica, que toca todos os aspetos da vida e é muito importante que não se torne numa crise da esperança".
Lembrando o período pós II Guerra Mundial, o cardeal reforçou que "sempre que foi preciso reconstruir o mundo e a vida, sempre que foi preciso recomeçar e repartir, a dimensão espiritual foi uma dimensão chave", pelo que "as religiões são aliadas do reencontro do homem com as esperança".
Num tempo "em que precisamos de consolação, precisamos ainda de muito cuidado, mas precisamos também de pensar nesta reconstrução espiritual da Europa", disse.
"É preciso que toda esta dor nos seja útil e que possamos partir deste momento para sociedades e modelos de vida também individuais eticamente qualificados, mais humanos, mais fraternos e penso que também mais espirituais", refletiu.
Considerando que este é "um tempo de desafio para a Igreja e para as comunidades", D. Tolentino Mendonça lembrou que se deve refletir "sobre o sentido da vida, sobre as suas prioridades, o que é essencial, o que nos faz felizes".
"Esse património de perguntas é uma dádiva e nós não podemos deixá-lo para trás, mas temos de colocá-lo no alforge como bússola para o futuro que aí vem", explicou, admitindo posteriormente que tudo o que tem acontecido "não pode ser em vão".
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