"No ensino universitário conseguimos níveis elevados, de alguma maneira equiparáveis aos níveis internacionais. No ensino secundário não estamos bem: não é numa coisa que aconteça só connosco, acontece também com a França. Mas a França, neste momento, tem um programa ambicioso para modificar esta situação", disse Ramalho Eanes, à margem de uma conferência organizada pela Caixa Geral de Depósitos, no âmbito dos encontros "Fora da Caixa".
Na conferência sobre "Setúbal Poli industrial", em que abordou a evolução da indústria em Portugal desde o século XIV, Ramalho Eanes acabou a concluir pela necessidade de uma grande aposta na Educação, que considerou ser fundamental para os jovens portugueses poderem enfrentar os desafios na nova revolução tecnológica.
"Creio que, para além das lutas [na área da Educação], que eu percebo e têm a sua razão de ser, é indispensável uma reforma profunda no ensino secundário, de tal maneira que ele possa cumprir o papel que lhe cabe: preparar todos - ou pelo menos uma maioria significativa [dos estudantes] - para terem acesso a uma preparação superior", disse.
O ex-Presidente da República advertiu que "a preparação superior é indispensável, tendo em consideração aquilo que é a nova revolução industrial, que é tão exigente em adaptações e mudanças, que, ou o trabalhador tem uma alta formação académica, uma grande qualidade profissional, está em condições de em qualquer altura reajustar, remodelar, reutilizar os seus conhecimentos e consegue ter trabalho, ou não consegue fazer isso e, possivelmente, acabará por ser um desempregado de longa duração".
Ramalho Eanes alertou para o problema da dificuldade dos alunos portugueses com a Matemática, sugeriu os modelos utilizados por outros países para resolverem este problema específico, ao mesmo tempo que defendeu a urgência de uma "reforma profunda" no ensino secundário, a exemplo do que se está a fazer em França.
"Em Portugal, tal como em outros países, a França, nomeadamente, impõe-se fazer uma reforma do ensino secundário", disse Ramalho Eanes, que não consegue compreender por que razão os responsáveis pela educação não tentam seguir as experiencias de outros países para resolverem o problema", disse.
"Uma das coisas que não se percebe são as dificuldades em Matemática. O que acontece é que muitos países têm utilizado o modelo de Singapura, que, ao fim e ao cabo, é o modelo chinês, mas apresentado em inglês. E eu pergunto-me porque é que nós, na área da Matemática, não olhamos para as experiências que foram feitas com resultado0s, para ver se eles aqui resultam, ou para as ajustarmos à nossa mentalidade e também conseguirmos resultados significativos, até porque as matemáticas sempre foram fundamentais e, em meu entende4r, são mais fundamentais - se é que assim se pode dizer - nesta revolução industrial", conluiu Ramalho Eanes.
A sessão de encerramento do encontro ficou a cargo do presidente da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, que anunciou a intenção da Caixa Geral de Depósitos de apostar cada vez mais na área digital.
No final do encontro, Paulo Macedo escusou-se a comentar as notícias divulgadas nos últimos dias sobre a alegada intenção da Caixa Geral de Depósitos de encerrar 75 balcões até final deste mês e o conflito com os trabalhadores da sucursal em França, que estão em greve há oito semanas.
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