Forças jihadistas e de outras formações rebeldes, apoiadas pela Turquia, iniciaram uma ofensiva-relâmpago contra as forças do regime de Bashar al Assad na quarta-feira, na Síria, coincidindo com a entrada em vigor de um frágil cessar-fogo no vizinho Líbano, entre Israel e o movimento pró-iraniano libanês Hezbollah, após dois meses de guerra aberta.
O grupo jihadista Hayat Tahrir al Sham (HTS, em português Organização pela Libertação do Levante), antiga filial síria da rede Al Qaeda, e facções aliadas, algumas apoiadas pela Turquia, lançaram uma ofensiva nas províncias de Idlib e Aleppo, tomando dezenas de localidades antes de entrar, na sexta-feira, na grande cidade do norte.
Em Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, com cerca de dois milhões de habitantes e centro histórico do país antes da guerra, "a maioria dos civis permanece em casa, e as instituições públicas e privadas estão quase todas fechadas", informou a rádio oficial Sham FM.
Este é um dos maiores confrontos em vários anos na Síria, onde a guerra civil que começou em 2011 entre forças que encontraram apoio externo provocou meio milhão de mortos e milhões de deslocados.
Quais os movimentos dos rebeldes este sábado?
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede no Reino Unido, mas com uma ampla rede de informadores no terreno, relatou que, durante a passada madrugada, aviões de guerra russos bombardearam Aleppo pela primeira vez desde 2016, quando o regime reconquistou a cidade com ajuda militar de Moscovo — e a Rússia ainda continua a ser o maior aliado do país.
Este sábado à tarde, "pelo menos 16 civis morreram e outros 20 ficaram feridos" quando "aviões de guerra, provavelmente russos, atacaram veículos civis", referiu ainda a mesma ONG. No total, estima-se que mais de 320 pessoas tenham morrido até ao momento.
Já no terreno, os militantes do HTS e facções aliadas tomaram "a maior parte da cidade, prédios governamentais e prisões" de Aleppo. Os jihadistas e rebeldes desfilaram pela cidade, instalaram a sua bandeira em frente a uma esquadra da polícia e rasgaram um retrato de Assad, segundo imagens da AFP.
Também assumiram o controlo do aeroporto de Aleppo e de locais estratégicos nas províncias vizinhas de Idlib e Hama, com o Exército sírio a indicar ainda que "organizações terroristas conseguiram penetrar em grandes partes de bairros da cidade de Aleppo".
De acordo com o OSDH, "não houve combates, nem um único tiro foi disparado, pois as forças do regime retiraram-se".
Por sua vez, o Irão afirma que elementos terroristas atacaram o seu consulado na cidade e defende o estabelecimento de uma "coordenação" entre o seu país e a Rússia para ajudar o regime de Assad.
Qual a resposta do Exército da Síria?
Segundo a agência de notícias iraniana Tasnim, o Exército sírio continuou esta tarde a combater os insurgentes em Aleppo, mas também deixou ao abandono posições estratégicas devido à falta de preparação para os ataques repentinos.
"Ninguém esperava que Aleppo fosse tomada, o que significa que não havia linhas defensivas reais dentro da cidade. Quando chegaram lá, parecia que estava tudo aberto", disse Jerome Drevon, do International Crisis Group, citado pelo The Guardian.
"Acho que o regime não esperava uma ação tão rápida, a operação começou há apenas alguns dias", acrescentou.
Nesse sentido, os militares sírios disseram que o número esmagador de combatentes e a "multiplicidade de frentes de batalha" levaram as forças armadas "a realizar uma operação de redistribuição com o objetivo de fortalecer as linhas de defesa para absorver o ataque, preservar as vidas de civis e soldados e preparar um contra-ataque".
O que diz o governo sírio e que ajudas são esperadas?
O presidente sírio, Bashar al Assad, afirmou este sábado que o seu país é capaz de "derrotar os terroristas".
"A Síria continua a defender a sua estabilidade e integridade territorial contra todos os terroristas e os seus apoiantes e é capaz, com a ajuda dos seus aliados e amigos, de derrotá-los e eliminá-los, independentemente da intensidade dos seus ataques", declarou Assad numa conversa telefónica com o chefe de Estado dos Emirados Árabes Unidos, conforme informou a Presidência síria em comunicado.
O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, é esperado em Damasco no domingo antes de viajar para a Turquia, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, discutiu a situação na Síria com o seu colega turco, Hakkan Fidan, num telefonema.
Até serem revelados os próximos passos, a repentina vitória dos rebeldes em Aleppo simboliza uma mudança considerada "dramática" no controlo de centros urbanos importantes na Síria — e também um desafio inesperado ao seu presidente, que há muito era visto como tendo eliminado a revolta no país e agora lida com as questões sobre a sua capacidade de manter o território.
*Com agências
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