Na Quinta Avenida da grande cidade passeia um casal de mãos dadas. Ele, Ben, usa uma máscara preta. Ela, Nathalie, mostra o seu sorriso sem o tapar.
Nathalie acredita, segundo disse à agência Lusa, que depois das duas doses da vacina “não haja problemas” em andar sem equipamento de proteção pessoal contra a covid-19.
É isso mesmo que indicam as novas regras da autoridade de saúde dos Estados Unidos: pessoas vacinadas por completo contra a covid-19 não precisam mais das máscaras.
Em Nova Iorque, o mandato de uso da máscara obrigatório foi retirado em 19 de maio para a “maioria das circunstâncias”, mas continua em vigor para transportes e para pessoas que ainda não se vacinaram.
Ben, por seu lado, confessou que ainda não tem “confiança completa”. A somar, “é já um hábito usar a máscara e já não é mais nenhum incómodo, como quando passou a ser regra”.
“O ser humano habitua-se e os nova-iorquinos são resilientes”, comentou Ben.
Nova Iorque, que ultrapassou o estatuto de “epicentro da pandemia” nos Estados Unidos da América, tem também, desde quarta-feira, novas regras para estabelecimentos comerciais, autorizando a reabertura a 100% para grande parte dos negócios.
A diferença é notória em relação ao ano passado, quando o mundo ficava incrédulo com imagens de uma cidade-fantasma em que “a grande maçã” se tinha transformado desde março.
Mas ainda predomina uma hesitação, que não é nada característica dos habitantes, para voltar “ao normal”.
Nem todos os negócios sobreviveram a mais de um ano de restrições e confinamento. Existem montras vazias, mostrando interiores desertos entre as maiores avenidas.
Nadia é funcionária pública em Nova Iorque. Ficou cética e preocupada quando foi avisada que teria de se deslocar ao escritório uma vez por semana. O motivo, como explicou à Lusa, foi o receio da multidão nos transportes, numa rota casa-trabalho que dura 50 minutos de Metro.
A estação e terminal de comboios Grand Central encontra-se em obras, tem quase todos as lojas, padarias e os balcões de café fechados e tem um posto temporário de vacinação. O movimento nesta estação é visivelmente muito menor do que as cerca de 750 mil pessoas que visitavam diariamente este marco arquitetónico de Nova Iorque antes da pandemia.
Já o terminal de autocarros, Port Authority Bus Terminal, a alguns minutos a pé para Times Square, está com movimento significativo, mas ainda longe de voltar ao ritmo agitado que tinha. As estimativas para esta infraestrutura de autocarros, a mais movimentada do país, apontavam ter a clientela de cerca de 250 mil pessoas por dia antes do confinamento.
No dia 13, quinta-feira, Nadia até gostou de voltar ao escritório pela primeira vez desde que o confinamento e teletrabalho foram impostos, 14 meses antes. Disse à Lusa que “estava a precisar, para [fazer] uma mudança de ambiente”, porque estava cansada de estar em casa sozinha.
Com o bom tempo, os nova-iorquinos saem com os seus almoços ou lanches e bebidas para os parques e partilham um pouco, pelo menos as migalhas, com os pombos. De vez em quando, dividem moedas com os sem-abrigo e pedintes, que também são muitos.
O burburinho da cidade está a voltar aos níveis de barulho já característicos de Nova Iorque, ainda que com algumas estradas cortadas ou parcialmente ocupadas pelas tendas criadas para os restaurantes poderem receber clientes com distanciamento social.
Sal, dono de um restaurante italiano em Long Island, afirmou à Lusa que não foi avisado das mudanças de regras pelo governo local e nem sentiu quaisquer mudanças no comportamento dos clientes e no negócio, que emprega 20 pessoas.
“Não sei, é muito confuso. Ainda temos de usar máscaras em espaços interiores e acho que ainda temos de tirar a temperatura para deixar entrar”, disse o fundador do restaurante Bella Via em entrevista à Lusa.
Sal continua a manter os livros com registo dos nomes e telefones das pessoas que entram na sala de refeições, como mandatório desde o início da pandemia.
O restaurante, que já existe há 19 anos no cruzamento entre a 48.ª Avenida e Vernon Boulevard, está rodeado de três tendas arranjadas e decoradas para servir refeições mantendo o distanciamento pedido. Sal não sabe qual vai ser o futuro das tendas, mas gostava de as manter, se a cidade permitir.
O chefe diz que o processo das mudanças de regras tem sido “tedioso, lento” e também “exaustivo” para quem gere um negócio.
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