Instado pelo coletivo de juízes a exercer o seu direito de falar após a intervenção da sua defesa e das réplicas de assistentes, o principal arguido do processo, de 34 anos, notou que o seu advogado, Francisco Teixeira da Mota, já tinha abordado o essencial, concentrando-se, por isso, apenas na questão do seu arrependimento.
“O Ministério Público e os advogados estão equivocados se consideram que não há um arrependimento sincero da minha parte. Não vou dizer que tenho a vida destruída, porque ainda estou vivo e enquanto há vida, há esperança... Mas tive comportamentos errados que violam a lei, claramente. Nada justifica violar caixas de correio de advogados, os advogados têm direito ao sigilo profissional, pese embora as repercussões do Luanda Leaks”, afirmou.
Ao lembrar a sua detenção em Budapeste, em janeiro de 2019, e mais de um ano em que esteve em prisão preventiva, Rui Pinto foi questionado pela juíza-presidente, Margarida Alves, se o arrependimento derivava do que lhe tinha acontecido ou dos efeitos causados sobre os outros intervenientes no processo, algo que o arguido se esforçou por contrapor.
“Não é daí que vem o meu arrependimento. Isto é uma construção, continuamos em crescimento e aprendi muito. Não é uma consequência de estar privado da minha liberdade. Hoje em dia tenho uma consciência que não tinha há anos… Sou uma personagem complexa”, referiu Rui Pinto na sessão efetuada no Juízo Central Criminal de Lisboa.
De seguida, também o outro arguido deste caso, Aníbal Pinto, optou por falar uma última vez perante o coletivo de juízes para reafirmar a sua conduta ao longo de todo o processo, repetindo a lisura da sua atuação face ao crime de tentativa de extorsão pelo qual responde neste julgamento.
“Ao longo de mais de 60 anos de vida nunca cometi qualquer crime”, disse o antigo advogado de Rui Pinto, continuando: “Em prol da minha defesa, gostava que ficasse claro que em nenhum momento o meu comportamento foi criminalmente reprovável”.
As intervenções dos dois arguidos fecharam as alegações finais do julgamento, com o coletivo de juízes a agendar para 28 de abril, às 10:00, a leitura do acórdão. Contudo, Margarida Alves assumiu a possibilidade de alterações não substanciais dos factos e da qualificação jurídica, o que ainda poderá levar a um adiamento da sentença, caso sejam consideradas necessárias mais diligências pelas partes do processo.
Rui Pinto, de 34 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto de 2020, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
Comentários