“O senhor Presidente da República tem toda a possibilidade de ouvir os partidos no momento que entender. Do lado do Livre dissemos que, até por uma questão de respeito aos votos dos nossos cidadãos portugueses lá fora, justifica-se que venhamos a ter outras audiências, essas sim as constitucionais para indigitação de primeiro-ministro após os resultados finais eleitorais”, começou por dizer aos jornalistas à saída de Belém, Rui Tavares, porta-voz do Livre.

Sobre o porquê de o Presidente da República estar a receber coligações e não partidos, Tavares não quis revelar que resposta lhe deu o chefe de Estado mas admitiu que “uma explicação possível é que as coligações neste momento ainda estão vigentes até concluído o processo eleitoral”.

“Mas isso também nos leva a uma conclusão: o processo eleitoral ainda não acabou. Não ponhamos o carro à frente dos bois, não tiremos conclusões precipitadas, eu vejo muita gente com vontade de liderar isto, liderar aquilo, liderar dinâmicas, às vezes cavalgar comentário televisivo ou outro. Os partidos não são comentadores, as lideranças dos partidos e os políticos não são comentadores e já várias vezes cometemos erros por se aceitarem as inevitabilidades ditadas pelos comentadores”, alertou.

"É um momento muito sério na história do nosso país. Estamos numa situação de crise política e as eleições não mostraram nada. Temos uma crise política, com elementos de crise de regime", defendeu.

Acompanhado por uma comitiva que incluía dois dos quatro deputados do Livre eleitos no passado domingo – Isabel Mendes Lopes e Paulo Muacho — o historiador defendeu que o chefe de Estado tem que “procurar o bloco político mais amplo e coeso” no parlamento.

"Acreditámos que existe uma maneira que faz crescer em votos e a maturidade da nossa democracia", explicou Tavares.  "Deve-se procurar o bloco político mais coeso e em termos de respeito pelos processos, é claro e justificado fazer novas audiências", acrescentou.

O deputado considerou legítima a hipótese de a esquerda formar governo caso tenha mais votos e mandatos do que PSD, CDS-PP e IL juntos e insistiu que estes partidos devem dizer o que farão caso o Chega apresente uma moção de censura a esse eventual executivo.

"Os portugueses votaram com políticas de aliança bem claras e isso deve ser respeitado", insistiu Rui Tavares. "Temos de perceber se a direita democrática conta com o Chega".

"O Livre considera que todos os democráticos devem falar sobre a democracia, porque considera que existem problemas. É inaceitável num país termos dois sistemas políticos", considerou.

Sobre a moção de rejeição do programa de Governo da Aliança Democrática (AD) anunciada hoje pelo secretário-geral do PCP, Rui Tavares rejeitou colocar “o carro à frente dos bois”, argumentando que ainda há votos para contar e que ainda não sabe que Governo estará em causa.

A AD, que junta PSD, CDS e PPM, com 29,49%, conseguiu 79 deputados na Assembleia da República, nas eleições legislativas de domingo, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega com 48 deputados eleitos (18,06%).

A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados. O Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares e ficou com quatro deputados.

Estão ainda por apurar os quatro deputados pela emigração, o que só acontece no dia 20 de março. Só depois dessa data, e de ouvir os partidos com representação parlamentar, o Presidente da República indigitará o novo primeiro-ministro.

*Com Lusa.