Centenas de pessoas, ativistas dos direitos humanos, opositores ou jornalistas independentes, foram classificadas na Rússia, nos últimos anos, como “agentes do estrangeiro”, um estatuto que é acompanhado de severas restrições administrativas e da obrigação de se apresentarem como tal em todas as comunicações públicas.
Ludmila Ulitskaya, de 81 anos, notabilizou-se na Rússia quando o seu primeiro romance, “Sonechka”, se tornou um acontecimento literário internacional, coroado com a atribuição do prémio Médicis para o Melhor Romance Estrangeiro em 1996 e com o prémio literário Giuseppe Acerbi.
Com “Sonechka”, uma história subtil e inteligente sobre o destino de uma mulher, tendo como pano de fundo a história da Rússia do século XX — o regime soviético e o seu desmoronamento -, Ulitskaya iniciou uma fulgurante carreira que a consagrou como um dos nomes cimeiros da literatura contemporânea internacional.
Seguiram-se obras como “Medeia e os Seus Filhos”, “O Caso Kukótski” e “A Escada de Jacob”, que a confirmaram como uma das mais notáveis escritoras da atualidade e lhe valeram distinções como o Austrian State Prize for European Literature, o Prémio Formentor e a atribuição do título de Officier de la Légion d’Honneur, em França.
Esta escritora amante da liberdade de expressão, cujas obras estão traduzidas em mais de 40 línguas (em Portugal, é publicada pela Cavalo de Ferro) e incluem romance, conto, literatura infantil e teatro, gosta de enfrentar o Kremlin, uma escolha muito rara no meio literário russo.
Ulitskaya condenou repetidas vezes a invasão “sem sentido” da Ucrânia pelas tropas russas, considerando em 2023 que tal teria “consequências catastróficas para a própria Rússia”.
Hoje, o Ministério da Justiça russo justificou a atribuição da classificação de “agente do estrangeiro” à autora indicando que esta “se opôs” ao conflito na Ucrânia e, em particular, “fez propaganda a favor das relações LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgénero)”.
Bióloga de formação que trabalhou no Instituto de Genética de Moscovo antes de iniciar a sua carreira literária, Ludmila Ulitskaya vive desde 2022 na Alemanha, tendo abandonado a Rússia na sequência do início da guerra na Ucrânia, tal como fizeram muitos outros críticos do regime do Presidente russo, Vladimir Putin.
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