O frente a frente entre Rui Rio e Catarina Martins, transmitido na SIC, centrou-se nas diferenças dos dois partidos quanto ao modelo económico que defendem para o país.
“Eu até posso negociar com o BE, mas chegar a um entendimento é muito difícil. Quando olhamos para o programa do BE há uma incompatibilidade completa, o BE quer mais despesa, mais impostos”, afirmou Rui Rio.
Catarina Martins contrapôs que o BE “fez muito” pelo equilíbrio orçamental e defendeu que o quadriénio em que Portugal mais cresceu desde a entrada no euro foi o período de governação da chamada “geringonça”, entre 2015 e 2019.
“Ao contrário do que defende a direita, é com salário que o país pode crescer”, afirmou, criticando Rui Rio por ter dito que o aumento do salário mínimo iria provocar mais desemprego e falências.
Na resposta, o líder do PSD defendeu que o salário mínimo “tem de aumentar de uma maneira que todos os salários possam crescer”.
“Se acelerar o aumento do SMN, as empresas não podem aumentar os outros salários e nivelar por baixo. O BE quer acabar com os ricos, eu quero acabar com os pobres”, disse.
Os dois líderes partidários defenderam também soluções diferentes para lidar com os problemas no setor da saúde.
“Portugal gasta mais do que a média europeia em termos de saúde e tem uma prestação de serviços pior do que a média europeia (…) Neste momento, atirar com mais dinheiro para o SNS não é já a prioridade, a prioridade é gerir bem o que está mal gerido”, defendeu o presidente do PSD.
Rio reiterou que o seu objetivo não é “privatizar o setor da saúde”, mas “chamar o setor privado para complementar” o que o setor público tem demonstrado não ser capaz de fazer, alertando que cerca de quatro milhões de portugueses já têm um seguro de saúde privado, além de pagarem os seus impostos.
“Temos de negociar parcerias público-privadas (PPP) com vantagem para ambas as partes, de modo a que tragam ao Estado melhor serviço e meias barato (…) Se assim for não faço porquê?”, questionou, admitindo uma política de recursos humanos na saúde que permita um “prémio adicional” aos que mais produzem.
Pelo contrário, Catarina Martins defendeu que “vai ser preciso mais dinheiro para a saúde” e acusou o PSD de querer “aproveitar a crise pandémica para que a saúde possa ser um negócio”.
“Quer entregar o Hospital de São João ao grupo Mello, o São José aos chineses da Fosun?”, criticou, salientando que na pandemia foi o SNS que “valeu” aos portugueses e que não se deve aproveitar a sua situação de fragilidade “o desmantelar”, embora admitindo contratualizações pontuais com o setor social e com o privado.
“Também não desisto do SNS, não quero pôr os ossos no SNS e a carne no privado”, assegurou Rio, dizendo concordar que “o SNS não é dar para dar lucro”.
Na Segurança Social, Rio defendeu que a base “tem de ser pública” - “se privatizássemos por completo ou quase, colocávamos as futuras pensões na bolsa, imagine o perigo que era” -, mas admitiu (tal como já previa no programa eleitoral de 2019) um sistema misto.
“Coisa diferente é podermos ter um sistema misto, que tem de ser articulado, consensualizado, um sistema com uma base pública, que pode ser complementado com uma base de capitalização”, disse, considerando que essa reforma não pode ser feita enquanto se perceber que, devido à erosão demográfica, vai gerar “um buraco” nas contas do Estado.
Na resposta, Catarina Martins considerou “incompreensível” que Rio reconheça que “é um perigo” colocar as pensões na bolsa, mas diga aos trabalhadores para colocarem parte do seu dinheiro nesses fundos em vez de na Segurança Social pública.
A coordenadora do BE realçou, a este propósito, que o chamado “imposto Mortágua” (um adicional ao Imposto Municipal sobre Imóveis), já permitiu arrecadar para a Segurança Social 477 milhões de euros entre 2018 e 2020
“Bem sei que, no seu programa em 2019, queria acabar com esta taxa e proteger os milionários, mas aqui fazemos escolhas e o que o BE quer é proteger as pensões e que as pensões possam crescer”, criticou.
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