De acordo com as atas da reunião Conselho de Redação (CR) da televisão da RTP, datada de 11 de dezembro, a que a Lusa teve hoje acesso, após os esclarecimentos prestados aos membros eleitos do órgão sobre a reportagem do lítio, a jornalista e coordenadora do "Sexta às 9", Sandra Felgueiras, revelou "outro episódio com que a equipa do programa se defrontou".
A jornalista referiu que na reunião de 03 de outubro deu conta à diretora de informação de que estaria a investigar suspeitas de corrupção no âmbito do processo de encerramento do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), que passava pelo alegado recebimento indevido de "dinheiro vivo" e que deu a Maria Flor Pedroso e à diretora-adjunta, Cândida Pinto, detalhes da investigação.
Nessa reunião, segundo a jornalista, Maria Flor Pedroso disse que tinha dado aulas no ISCEM e que conhecia a diretora do ISCEM, Regina Moreira, a principal visada na investigação.
"Até esse momento, Regina Moreira sabia apenas que a jornalista Ana Raquel Leitão a queria entrevistar sobre o encerramento do instituto e não sobre o recebimento indevido de 'dinheiro vivo'", segundo Sandra Felgueiras.
No dia 08 de outubro, a diretora do ISCEM terá contactado a jornalista "para dizer que tinha falado" com a diretora de informação, "que lhe teria transmitido que a investigação do programa ‘Sexta às 9’ passava pela suspeita de recebimento indevido de ‘dinheiro vivo’ e que, por recomendação da mesma, só iria responder às perguntas do programa (...) por escrito".
Na reunião do CR, Sandra Felgueiras "acusou a diretora de informação de violação dos deveres funcionais e de violação do dever de sigilo, ao transmitir para a principal visada na reportagem informação privilegiada", algo que Maria Flor Pedroso "rejeitou liminarmente", questionando a jornalista sobre a razão pela qual “reteve esta informação até ao dia 11 de dezembro quando já a conhecia desde 08 de outubro".
Entretanto, "Sandra Felgueiras respondeu que apenas soube no dia 03 de dezembro, quando saiu das audições na Assembleia da República, que a investigação não se iria realizar, uma vez que Ana Raquel Leitão tinha recebido um 'email' do arquiteto [a quem a diretora do ISCEM devia dinheiro] a revogar o direito de entrevista, pois a dívida da diretora do ISCEM [dois milhões de euros] já teria sido saldada", lê-se na ata.
"Neste momento, a diretora de informação e a coordenadora do programa 'Sexta às 9' envolveram-se numa discussão acesa, sendo praticamente impossível reproduzir com fiabilidade tudo o que foi referido", refere a ata.
Maria Flor Pedroso "explicou ao CR que deu aulas de jornalismo radiofónico durante oito anos no instituto e que não divulgou nenhuma investigação" e justificou que "questionou na secretaria" do ISCEM "se estava a ser exigido aos alunos que pagassem os emolumentos em 'dinheiro' vivo e que nesse dia encontrou Regina Moreira".
Acrescentou que a diretora do instituto disse que tinha sido contactada pelo programa e que não iria dar entrevista.
Ao Conselho de Redação, Maria Flor Pedroso explicou que "apenas lhe disse para responder por escrito para que o programa não perdesse toda a história", recusando qualquer acusação de ter divulgado pormenores da investigação.
Sobre o facto de Cândida Pinto se ter dirigido à jornalista Ana Raquel Leitão para lhe dizer que "alguém lhe disse" que o ISCEM não tinha multibanco, pelo que a investigação "poderia não ter pernas para andar", já que essa poderia ser explicação para os alunos estarem a pagar os emolumentos em dinheiro, a diretora de informação disse que tinha sido a própria a transmitir a informação à diretora adjunta.
Flor Pedroso "acabou por pedir desculpas à equipa, mas frisou que apenas tentou ajudar, uma vez que tinha acesso a fontes não alcançáveis pelos jornalistas da equipa", lê-se no documento.
Na reunião, "a jornalista Sandra Felgueiras e a diretora de informação, Maria Flor Pedroso, referiram (...) que são muito resilientes e não se vão demitir".
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