Começando por reforçar que esta é a primeira peregrinação sem restrições, o reitor do Santuário de Fátima, Pe. Carlos Cabecinhas, recordou que "as limitações [anteriores] foram de tal forma que em maio de 2020 não tivemos peregrinos", o que aconteceu pela primeira vez "num século de história". Além disso,"a celebração do passado ano teve enormes restrições à forma de realização".
Hoje, "a queda das restrições não significa, da nossa parte, uma menor responsabilidade. Alegramo-nos por podermos celebrar esta peregrinação de maio agora sem as restrições a que estávamos sujeitos, pela situação de todos conhecida, mas não sentimos uma menor responsabilidade e continuamos a sugerir aos peregrinos, por exemplo, o uso de máscara, sobretudo nos lugares de maior aglomeração de pessoas", frisou em declarações aos jornalistas.
Lembrando que "já não existe uma obrigação do uso de máscara, mas a máscara não está proibida", Carlos Cabecinhas frisou que a sua utilização é sugerida "como medida preventiva".
O reitor assinalou ainda que desde março que se verificou uma presença crescente de grupos organizados de peregrinos de várias paróquias e movimentos no Santuário, "que praticamente tinham desaparecido durante os dois anos anteriores". Regressaram também os peregrinos estrangeiros, "tão pouco presentes ou totalmente ausentes" durante o tempo de pandemia.
No que diz respeito aos peregrinos a pé, verificou-se um aumento significativo de grupos a partir da Páscoa, o que se pensou ser "para evitar aglomerações"
Como vieram tantos com antecedência, o reitor assumiu que Santuário não esperava uma "presença tão significativa de peregrinos a pé nestes dias 12 e 13".
"Enganámo-nos, o que significa que essa vinda anterior de outros grupos não significou de forma alguma uma diminuição nestas datas", apontou o sacerdote.
D. José Ornelas começa a conhecer "os cantos à casa"
O bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, está pela primeira vez nessa condição numa peregrinação aniversária em Fátima, naquele que diz ser "um desafio novo".
Na conferência de imprensa, lembrou que está, neste momento, "não só conhecer os cantos à casa, mas conhecer a casa desses cantos todos", afirmando que "esta é uma casa particularmente interessante" também para si.
"É uma casa aberta, que é meta de um peregrinar para aqui, mas é também uma peregrinação que se estende para o mundo. Não só as imagens peregrinas, mas os ecos do mundo que aqui chegam e aqui se entrelaçam são um sinal muito interessante daquilo que é a Igreja", apontou.
D. José Ornelas afirmou ainda que Fátima é "uma casa onde Maria, que para nós é modelo daquilo que deve ser a Igreja, vem ao encontro de três crianças que ainda nem eram capazes de ler" e que "se apresenta como aquela que cuida dos mais frágeis e pequenos", num contexto "muito semelhante" ao que se vive hoje: "uma situação de pandemia, a gripe espanhola, que até vitimou duas dessa crianças, e a I Guerra Mundial".
"Fátima é um lugar posto no mundo nas suas dimensões de beleza mas também de tragicidade e esta guerra que vivemos agora é bem sinal disso", acrescentou o bispo de Leiria-Fátima.
José Ornelas aproveitou ainda a conferência de imprensa para falar da passagem do Papa Francisco por Fátima, a propósito da Jornada Mundial da Juventude, que decorrerá no próximo ano, em Lisboa.
Segundo o prelado, a diocese e o santuário “não são propriamente a meta final, mas são o ponto de partida”.
“Para os nossos jovens, isso é particularmente importante. Hoje a mobilidade está no coração dos jovens. Eles fazem as experiências de internacionalidade junto com a sua formação universitária, os Erasmus e tantas outras dinâmicas”, acrescentou.
Fátima, 1917 vs 2022
O reitor do Santuário de Fátima, o padre Carlos Cabecinhas, pediu ainda precaução relativamente a uma “visão ideológica” da mensagem de Fátima, avisando que o contexto é diferente do vivido em 1917.
“Nós não estamos a pedir a conversão da Rússia. Nós estamos a pedir a paz e uma paz que não tem que ver com um regime ateu que procura impor o ateísmo a um país”, afirmou.
O reitor disse que a guerra na Ucrânia se deve a “uma deriva imperialista de um país que, violando as leis internacionais, invade um outro país, provocando uma guerra”, que “é uma fonte terrível de problemas”.
“A referência da Rússia no segredo não tem que ver propriamente com a geografia e com um povo, tem que ver com uma ideologia que pretende excluir de forma radical Deus daquilo que é o horizonte das pessoas”, frisou.
Segundo Carlos Cabecinhas, “quando a mensagem de Fátima fala da necessidade de conversão da Rússia, fala fundamentalmente desta necessidade de dar a Deus o lugar que a Ele compete na vida dos crentes”.
“Neste momento, na Ucrânia, não temos uma guerra religiosa. Não temos, por um lado, um regime que procure afastar Deus do horizonte das pessoas e, por outro lado, um regime que procure defender essa presença de Deus. A situação é outra, os tempos são outros, o horizonte mudou radicalmente”, sublinhou.
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