Vanda, de 44 anos, é uma das cinco reclusas que terminaram o curso de cozinha, com duração de quatro anos, e que anseia fazer da restauração o seu futuro profissional quando, daqui a um ano, sair da cadeia e voltar à vida em sociedade.
A azáfama na cozinha era grande e Vanda, na sua jaleca branca, juntamente com mais seis reclusos e sob o olhar atento do formador confecionaram, emprataram e serviram os cerca de 30 convidados.
A ementa era composta por uma entrada de mil folhas de bacalhau, prato de migas de espinafres, pescada e camarão e a sobremesa brisas do Liz com molho de Maracujá.
“O curso de cozinheira de primeira é uma mais valia para a reintegração na sociedade e que me vai dar muita facilidade em arranjar trabalho porque assim tenho uma ferramenta”, contou à agência Lusa entre tachos e panelas enquanto preparava o almoço para os convidados.
Associado ao curso de restauração - cozinha de primeira - esta reclusa conseguiu também concluir os estudos do 7.º ao 12.º ano.
Usando o seu próprio exemplo, Vanda considera essencial a formação profissional nas cadeias.
“O tempo passa mais depressa, o curso ocupa-nos muito tempo. Foi uma das coisas que mais me ocupou aqui dentro e ajudou muito”, disse.
O “sôtor Carvalho” é formador na área de cozinha em Tires há mais 15 anos e já ajudou muitas mulheres a reconstruir a vida depois de deixarem para trás os muros da cadeia.
“Deste último curso começaram 15 mulheres e seis ou sete já estão a trabalhar na zona grande Lisboa na área de cozinha”, disse orgulhoso.
Os cursos profissionais são vistos pelas reclusas como uma porta de saída, uma luz ao fundo do túnel para quando voltarem a viver em sociedade, e segundo o professor, todas as reclusas que se inscrevem na formação "têm do princípio ao fim muita vontade e não há desistências”.
Brevemente será aberto um novo curso de cozinha para mais 15 a 20 reclusas.
Para celebrar o final desta formação profissional na área de cozinha, as reclusas contaram com a presença da ministra da Justiça que elogiou o almoço.
A presença de Francisca Van Dunem serviu para "chamar a atenção para a dimensão de reinserção” associada à reclusão.
“Damos a maior relevância [à reinserção social] e esta participação tem como objetivo estimular as pessoas a integrarem os cursos. Destes cursos já saíram quatro pessoas que estão empregadas”, afirmou à Lusa a governante.
Estes cursos são de dupla certificação, isto é, as reclusas fazem o 12.º ano e têm também uma dimensão mais profissional relacionada com a hotelaria.
“A reinserção é o único caminho. A lógica e o fim das penas é reinserir as pessoas. As estruturas da missão prisional é ressocializadora”, sustentou.
Atualmente, a cadeia de Tires conta com 400 mulheres e, desde 2015, já foram formadas 66 em cursos profissionais.
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