O Iberifier é um projeto que visa combater a desinformação e integra 23 centros de investigação e universidades ibéricas, as agências noticiosas portuguesa, Lusa, e espanhola, EFE, e ‘fact checkers’ como o Polígrafo e Prova dos Factos – Público, de Portugal, e Maldita.es e Efe Verifica, de Espanha.

“A questão da desinformação é uma questão global, não é uma questão dos países que falam português ou dos países que falam espanhol”, começa por dizer o professor catedrático do ISCTE e coordenador para Portugal do Iberifier.

No âmbito do projeto ibérico do Iberifier, o que se tentou fazer no primeiro conjunto de anos de trabalho “foi mapear, por um lado, quais são os meios de comunicação social que existem em atuação em Portugal, em Espanha e depois começar a lidar com as questões da desinformação”.

Embora “seja um projeto sobre desinformação, a sua base é a informação, ou seja, onde é que está a produção de conteúdos jornalísticos para que, depois, então, possamos ir lidar com a questão” da desinformação, prossegue o também investigador do CIES – ISCTE.

Agora, “nesta segunda fase, existe o objetivo de tentar levar para outras zonas geográficas, nomeadamente para os países de expressão portuguesa e também para os países de expressão espanhola na América Latina, África e, no caso português, também Timor”.

Gustavo Cardoso sublinha a “singularidade” da dinâmica ibérica na Europa, onde “a maior parte dos países não tem uma característica de meios jornalísticos na língua fora do país, fora do contexto continental europeu”.

Para Gustavo Cardoso, no quadro atual” da União Europeia, “claramente o português e o espanhol (…) são destinos importantes por duas razões”.

A primeira é porque “muito daquilo que é utilizado para desinformação, por exemplo, em Portugal e Espanha, também é experimentado noutras latitudes e longitudes”, elenca.

Portanto, “se nós não estudarmos essa realidade, também não vamos conseguir antecipar situações que vamos ter que viver também nos nossos próprios países, é uma continuidade, mas alargando as fronteiras de onde se pretende fazer o trabalho com o Iberifier”, refere Gustavo Cardoso.

Depois, “há uma outra dimensão que o Iberifier” tem e que “inclui a Lusa como agência de notícias, inclui também ‘fact checkers’ em Portugal e em Espanha”, como o Polígrafo e a Maldita, universidades, associações, entre outros, ou seja, “um conjunto diferente de instituições da sociedade”.

O que “estamos a tentar fazer também nesta parte dois é colocar a trabalhar em conjunto, por exemplo, ‘fact checkers’ e outras entidades, nomeadamente para tentar compreender os circuitos de circulação da desinformação, não para saber quem faz, mas sim, como é que se propaga”, explica o investigador.

Ou seja, “tentar estudar, tipificar as rotas da desinformação” porque se “se nós compreendermos melhor como é que funciona a desinformação, também será mais fácil explicar às pessoas para que elas próprias tomem as suas devidas medidas para lidar com estes fenómenos”, defende.

O Iberifier, vinca, “não pretende criar uma entidade que vá lidar com as questões sobre a desinformação”.

O que “queremos é compreender o que é que é preciso explicar às pessoas para que possam atuar elas próprias e, por isso, estamos a falar também de uma outra dimensão do projeto, que é a literacia e, portanto, a literacia para os media é uma literacia para a desinformação de alguma maneira”, sublinha.

O consórcio Iberifier é um dos 14 observatórios multinacionais de meios digitais e desinformação promovido pela Comissão Europeia, tem como coordenador Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra, e inclui, entre outras, a Universidade Carlos III, de Santiago de Compostela, de Espanha, e ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa e Universidade de Aveiro, de Portugal.