A Agência Lusa esteve com produtores da associação algarvia e os apicultores disseram estar a debater-se com a mortalidade dos efetivos devido à vegetação seca e à falta de alimento no campo, situação que se soma ao aumento dos custos e fatores de produção, como o gasóleo ou o alimento que permite a formação das colmeias ou a sua subsistência em tempos de escassez de alimento.
“Este ano, as previsões são péssimas, porque já tivemos um ano de seca anterior e perdeu-se muita frota. Este ano, os apicultores tentaram repor a frota que perderam e apanhamos com um ano que, neste momento, está entre dois meses a dois meses e meio avançado. Portanto, vamos ter um verão muito mais prolongado e as previsões são de que será pior do que o ano passado ou muito pior'”, afirmou o presidente da Melgarbe, Manuel Francisco.
O produtor na zona de Tavira, no sotavento algarvio, lamentou que não haja apoios para a apicultura, ao contrário do que acontece com outros setores agrícolas que receberam ajudas das entidades oficiais, e antecipou um ano em que as “despesas são cada vez mais e a produção cada vez menor”, levando os apicultores “a passar mais dificuldades”.
Segundo o dirigente associativo, a flora, neste momento, está tão seca como está na maior parte dos anos no fim de agosto e o verão, “em vez de três meses, passa a cinco ou a seis”, afetando a viabilidade das colmeias e a produção.
“A abelha não tem néctar fora da colmeia porque está tudo seco, não faz reprodução de abelhas e a frota vai-se eliminando por ela própria, porque o ciclo de vida acaba e chegamos ao pé das colmeias e elas não têm abelhas pela impossibilidade de a rainha poder reproduzir novas para ir repondo o número de abelhas para a colmeia funcionar”, explicou.
Paulo Ventura, que tem produção de mel na zona de Odeleite, no concelho de Castro Marim, e também é técnico na Melgarbe, estimou que os apicultores venham a produzir “uns 30% em relação à produção que houve no ano passado”, que, “em média, não deve chegar aos cinco quilos por colmeia”.
A mesma fonte lembrou que, no ano transato, o verão se “prolongou imenso” e isso causou “bastante mortalidade de colmeias no outono e no inverno”, os apicultores tentaram “repor os seus efetivos”, mas “hoje já estão a morrer colmeias”.
As perdas situam-se entre “20 a 30% de colmeias, no total”, porque no litoral, onde há agricultura intensiva, “todos os anos morrem mais de metade das colmeias” e “no ano passado morreram perto de 70%”, referiu.
“Depois temos outro problema, termos um Ministério da Agricultura que não olha para o setor apícola como um setor da atividade económica e agrícola como os outros”, criticou.
Paulo Ventura argumentou que os apicultores estão a encadear “anos seguidos de problemas, com mortalidade de colmeias, seca extrema e alterações climáticas”.
De acordo com o responsável, a reposição dos efetivos “vai esgotando o orçamento dos apicultores do Algarve”, onde a Melgarbe tem cerca de 300 associados, que representam cerca de 70.000 a 72.000 colmeias, ou seja, 10% do efetivo nacional.
Paulo Ventura afirmou que os apicultores “nunca tiveram nada da parte do ministério [da Agricultura], à semelhança do que acontece com outras atividades”, como os caprinos, os ovinos ou os bovinos, e frisou que só a montagem de uma colmeia custa cerca de 150 euros, a que se somam também os custos de alimentação do efetivo em tempos de escassez.
“A apicultura portuguesa nunca teve apoios nesse sentido, nunca teve reconhecimento sério e efetivo de quem nos governa e cria-nos todos os dias mais problemas e mais dificuldades manter estes efetivos e fazer face aos compromissos que temos também com o setor da fruticultura”, salientou.
O produtor recordou que são os apicultores do Algarve quem leva colmeias para fazer a polinização das amendoeiras do Alentejo, dos abacates do Algarve ou da framboesa da costa vicentina.
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