A vitória de Joe Biden na Georgia nas presidenciais de 2020 foi decisiva para a derrota de Donald Trump, mas a curta margem da mesma (perto de 12 mil votos, uma fração dos de Fulton), levou a que este rejeitasse os resultados e iniciasse um processo de contestação que foi derrotado nos tribunais, mas culminou no violento assalto ao Capitólio pelos seus apoiantes em janeiro de 2021.
Quatro anos depois, Trump continua sem reconhecer que perdeu as eleições, quando a campanha entra numa tensa reta final.
A Lusa visitou nos últimos dias três das 44 mesas de voto em Fulton, na cidade de Atlanta, onde a votação antecipada termina na sexta-feira. Em todas, a afluência era significativa e ordeira, com grande quantidade de pessoal e segurança reforçada.
Na mesa de voto da biblioteca Buckhead Library, Regina Waller, responsável de comunicação do condado, relatou à Lusa que 325 mil pessoas já votaram antecipadamente na zona.
“A votação antecipada está a correr de maneira fenomenal”, disse Waller. Na mesma altura, responsáveis da Administração Eleitoral da Georgia, cerne da disputa eleitoral que envolve a votação, efetuava uma vistoria.
Comparado com o arranque da votação em 2016, a afluência mais do que triplicou: de 15 mil no primeiro dia em 2016, para 45 mil este ano e “os números continuam a subir”, segundo Waller.
Segundo dados oficiais, até ao início da semana votaram em todo o estado da Georgia perto de três milhões de eleitores, 40% do total.
Devido à contestação republicana em 2020, os votos da Geórgia para a presidência foram contados três vezes, incluindo uma vez manualmente. Todas confirmaram a vitória do democrata Joe Biden.
Recontagens, revisões e auditorias nos outros estados decisivos também confirmaram claramente a derrota de Trump.
Embora o condado de Fulton tenha admitido a duplicação da leitura de algumas cédulas durante uma recontagem em 2020, não é certo se os erros beneficiaram qualquer dos candidatos.
Em relação a 2020, o processo de votação no estado é o mesmo: o eleitor apresenta identificação, geralmente carta de condução, e após esta ser verificada é-lhe entregue um cartão verde com um chip, com que pode dirigir-se à máquina de votação. Nesta, o eleitor faz a escolha num ecrã tátil e a máquina imprime no final um boletim que é depois levado para um “scanner”, para contagem automática. Os vários registos tornam quase impossível a fraude.
Ainda assim, em agosto passado os republicanos na comissão eleitoral anunciaram a intenção de reabrir a investigação à contagem de 2020.
John Fervier, o presidente (republicano) da Administração Eleitoral da Georgia, tem sido crítico dos seus colegas de partido no organismo.
“Faço questão de falar com os observadores eleitorais e não tive uma única queixa deles, republicanos ou democratas. Todos descrevem como o processo tem sido fluído e para nós tudo tem funcionado muito bem”, disse Fervier no final da vistoria à mesa de Buckhead.
A Lusa visitou ainda uma mesa num dos principais museus de arte moderna de Atlanta e outra num centro comunitário numa zona do subúrbio da cidade, em ambos os casos observando apenas avisos a alguns eleitores para que não usassem o telemóvel dentro da sala, o que é proibido.
Do lado republicano, prossegue contudo o tema da suposta fraude, explorado com intensidade.
Num comício de Donald Trump próximo da biblioteca Buckhead, na segunda-feira, diversos eleitos locais do partido alertaram para uma possível fraude nas eleições deste ano.
Num vídeo passado duas vezes antes do início do comício, como testemunhou a Lusa, o próprio ex-Presidente apelava à vigilância dos eleitores nas mesas de voto e afirmava que “a única coisa que eles [democratas] sabem fazer é aldrabar”.
Confrontada pela Lusa com estas afirmações, Regina Waller evitou responder diretamente, mas assegurou que não há razões para tal.
“Não houve fraude provada da última vez. Lutamos por um processo claro e transparente. Fizemo-lo em 2020 e estamos a fazê-lo novamente este ano”, afirmou à Lusa.
Geneva Jones, responsável da mesa de voto de um centro recreativo no sul do condado, também relatou afluência muito acima de outras eleições, cerca de quatro mil votos em duas semanas.
Com a retórica eleitoral bastante inflamada, têm-se registado alguns incidentes em mesas de voto, como esta semana no estado de Washington (noroeste), onde um homem incendiou mesas de voto.
Essa é uma preocupação adicional para Regina Waller, até porque no dia das eleições, 05 de novembro, as mesas de voto abertas serão 177, o quádruplo das de voto antecipado, e a afluência será ainda maior. O pessoal das mesas, relatou, tem tido treino de segurança.
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