“Quando sugeri o tema deste 20.º congresso – ‘From Fashion to Factory: A New Technological Age’ (Da Moda à Fábrica - Uma Nova Era Tecnológica) – estava a pensar em Portugal. Portugal é o local certo para debater este tópico, porque há poucos países no mundo onde podemos encontrar em simultâneo toda a cadeia de produção, com muito bom ‘know how’ [conhecimento] produtivo e com conhecimento aprofundado da moda e ‘design’, afirmou Yves Morin na sessão de abertura do evento, que decorre até sexta-feira no Porto.
Na sua intervenção, o presidente da UITIC afirmou que, “em termos de volume de produção e número de empresas, a indústria portuguesa de calçado é uma das mais importantes da Europa”, destacando-se pelas “empresas muito competitivas, com visão e com muito investimento feito em equipamento moderno e pessoal qualificado”.
“Graças à política deste Governo, Portugal é hoje um país com uma ambiciosa estratégia internacional, promotora de inovação e ‘marketing’, promotora de identidade de marca e de ‘design’ moderno, com pessoal bem qualificado e produção de qualidade”, sustentou.
Segundo Yves Morin, a indústria de calçado tem um futuro promissor a nível internacional: “Mesmo que nem tudo seja fácil, a produção mundial de calçado tem aumentado quase todos os anos graças ao incremento da população mundial e ao crescimento do poder de compra em muitos países em vias de desenvolvimento”, disse.
“Ainda há um grande número de países onde as pessoas só compram um par de sapatos por ano, enquanto noutros se compram sete pares por ano, por isso temos um enorme potencial de crescimento que muitas outras indústrias gostariam de apresentar”, considerou.
No concretizar deste potencial de crescimento da indústria de calçado o presidente da UITIC destacou a moda como um “fator-chave”, mas alertou para que este é “um caminho difícil, porque devido à moda e, sobretudo, à ‘fast fashion’, é preciso uma cada vez maior flexibilidade na produção e mais ferramentas de comunicação entre os clientes, retalhistas e fábricas”.
E, acrescentou, tendo sido a indústria da moda recentemente apontada como “a segunda indústria mais poluidora no mundo”, o setor do calçado “terá que ser mais responsável no futuro”, apostando na inovação e integrando “melhorias ambientais, sociais e éticas nos planos de negócio”.
Relativamente ao congresso que até sexta-feira decorre no Porto, Yves Morin destacou tratar-se de um encontro “muito bem-sucedido, com mais de 540 delegados de cerca de 33 países”, o que faz do evento “um dos maiores organizados pela UITIC”.
Também presente na sessão de abertura, a secretária de Estado da Indústria, Ana Teresa Lehmann, apresentou o setor português do calçado como uma “indústria inovadora e altamente exportadora e competitiva”, que canaliza para o exterior “mais de 95% da produção”.
“Um par de sapatos portugueses tem hoje o segundo preço médio mais alto a nível internacional, o que é um indicador de qualidade e inovação”, sustentou, apontando o “valor acrescentado, qualidade e ‘design’” dos “mais de 80 milhões de pares exportados” em 2017.
Perante as várias centenas de delegados presentes no congresso, a secretária de Estado salientou a “evolução verdadeiramente incrível” do setor português do calçado, que desde 2010 aumentou em mais de 20% o número de empresas (com 290 novas empresas a surgirem) e em quase 25% o emprego, “mesmo com o aumento da robotização e da automação”.
“A indústria portuguesa de calçado é um dos mais flagrantes exemplos de modernização e inovação dentro da tradição e é, por isso, um caso de estudo”, sustentou Ana Teresa Lehmann, salientando que “transformou um orgulhoso setor tradicional numa indústria do futuro, que faz da tradição um fator estratégico”.
Poucas semanas depois de a APICCAPS ter apresentado o projeto FOOTure 4.0, em que mediante um investimento de 50 milhões de euros a indústria portuguesa do calçado se propõe afirmar como a grande referência internacional na utilização de novas tecnologias, o congresso internacional da UITIC conta com a participação de oradores de primeiro plano de mais de 15 países e foi precedido de três dias de visitas dos congressistas a fábricas portuguesas.
“É o regresso ao Porto do maior evento técnico do setor de calçado no plano internacional”, destaca a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), recordando que a primeira vez que o congresso mundial da UITIC se realizou em Portugal foi em 1996.
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