“Temos CROA totalmente inoperacionais, não conseguem retirar os animais da rua, estão cheios, estão superlotados, não conseguem fazer face à situação de emergência”, disse Ricardo Lobo, da direção da Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios (ANVETEM), considerando que “tudo isto é dramático”, porque “as listas de espera vão acumulando” e há animais que viverão toda a vida em cativeiro.
“O problema é que, de facto, a lei foi feita sobre premissas erradas, porque os números que nós tínhamos até então são os mesmos números de animais abandonados que nos chegam para recolher. Continuam na mesma ordem de grandeza e não estão nivelados com a capacidade de adoção das famílias portuguesas”, acrescentou.
Ricardo Lobo defendeu que deveriam ser os médicos veterinários municipais a gerir os CROA, não numa lógica de abate indiscriminado, mas “de acordo com critérios de bem-estar animal, sociabilização e da possibilidade de adoção”.
“Pelo menos que fosse dada aos médicos veterinários a oportunidade de gerir o CROA de acordo com critérios de bem-estar animal, sociabilização, da possibilidade de adoção. Neste momento nada disso é feito, os animais estão alojados no centro de recolha oficial e lá ficarão eternamente”, afirmou, sublinhando que não defende um regresso “ao passado de tratar os animais como resíduo urbano”, no qual eram recolhidos, abatidos e incinerados.
Segundo o responsável, “a lei poderia continuar a fazer pressão e a existir, e iam-se prorrogando os prazos da entrada em vigor da proibição dos abates, mediante o equilíbrio dos animais que são para recolher e dos animais recolhidos”.
Ricardo Lobo salientou que esta gestão, em conjunto com as campanhas de sensibilização e de esterilização que estão a ser desenvolvidas, permitirá chegar a um equilíbrio entre os animais disponíveis e as famílias interessadas em adotar dentro de cinco a 10 anos.
Por isso, na sua perspetiva, não faz sentido a construção de mais CROA, como preveem várias propostas discutidas há dias no parlamento, até porque vão sempre ser insuficientes para os animais que atualmente necessitam de uma vaga.
“Faz algum sentido estar a construir canis por cima de canis, por cima de canis, para daqui a cinco anos não precisarmos deles?”, questionou.
O responsável sublinhou ainda que existem questões económicas e que se estão a desviar recursos que eram essenciais para outros ramos da veterinária, porque “não é só construir”, mas “é preciso manter”.
Ricardo Lobo salientou que o que se está a fazer é a recolher cães que vão passar a sua vida toda num CROA, comprometendo o bem-estar animal, e sublinhou o caso da Holanda, considerado um exemplo de boas práticas, onde alguns cães são abatidos, nomeadamente aqueles que estão no centro há mais de 12 meses.
A Lei n.º 27/2016, de 23 de agosto, que aprovou medidas para a criação de uma rede de CROA e estabeleceu a proibição do abate de animais errantes como forma de controlo da população, definiu que as Câmaras tinham até outubro de 2018 para se adaptarem, passando então a ser proibida esta prática.
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