Mangino sofria com problemas de saúde depois de uma pneumonia da qual demorou a recuperar, segundo o próprio contou em fevereiro do ano passado, em plena promoção do filme nomeado para os Oscares.

Amigo dos membros da equipa amadora de râguebi uruguaia Old Christians Club, voava com eles para um jogo no Chile quando o avião fretado para os transportar caiu nos Andes argentinos em 13 de outubro de 1972.

"A comunidade do Colégio Stella Maris e o Old Christians Club lamentam com profundo pesar a partida de Álvaro Mangino Schmid", escreveu o clube na rede social X.

Mangino, que também não era aluno do colégio Stella Maris, quase não conseguiu embarcar no fatídico voo 571.

Das 45 pessoas a bordo, 33 sobreviveram ao impacto inicial, mas apenas 16 viveram para contar a dura experiência de passar dez semanas a menos de 30 graus Celsius e a quase 4 mil metros sobre o nível do mar, sem abrigo, roupas adequadas e comida.

O resgate só foi possível depois que dois dos jovens conseguirem auxílio após uma caminhada de dez dias nas montanhas em condições hostis. A história, conhecida como o "Milagre dos Andes", inspirou vários livros e filmes.

Como o restante do grupo, Mangino teve que recorrer ao canibalismo e alimentar-se da carne dos seus companheiros mortos. "A decisão mais difícil que tomei na minha vida", conforme lembrou no livro "A Sociedade da Neve", do uruguaio Pablo Vierci, que deu origem ao filme.

J.A. Bayona, realizador da longa metragem, destacou neste sábado a generosidade de Mangino e a sua ajuda para o filme.

"No impacto, fraturou a perna e passou os 72 dias arrastando-se pela neve. Contudo, apesar de sua incapacidade, será lembrado por não ter parado nunca de trabalhar na montanha, constantemente a derreter para poder abastecer de água os seus companheiros", escreveu Bayona no Instagram.

Acrescentou uma foto de Mangino sentado ao lado de Juan Caruso, o ator argentino que o interpretou no filme.

"Foi sempre muito discreto, mas tem uma história tão linda, tão rica, tão poderosa", disse Caruso no ano passado sobre Mangino, e lembrou que foi o seu amor pela sua namorada Margarita, com quem se casou e teve quatro filhos, que o manteve vivo.

Mangino, que viveu durante muitos anos no Brasil e trabalhou depois no Uruguai numa empresa de calefação e ar-condicionado, é o terceiro dos sobreviventes do "Milagre dos Andes" a falecer, depois de Javier Methol, a 4 de junho de 2015, e José Luis Inciarte, em 27 de julho de 2023.