“A evolução do mercado e a falta de apoios consistentes e bem direcionados faz com que aumente o número de livrarias que fecham as suas portas, vedando o acesso aos livros, consumando a destruição de espaços de encontro e de convívio e o inevitável empobrecimento da vida cultural do país”, afirma a SPA em comunicado, lembrando o encerramento de mais duas livrarias, em Lisboa.
A situação é explicada com o “volume elevado das rendas” e a própria crise do mercado, sendo, por isso, “urgente que o Governo, à semelhança do que tem feito o executivo francês ao longo dos anos, procure e encontre medidas que lhe permitam intervir de uma forma solidária e eficaz na situação das livrarias”.
A Aillaud & Lellos, na rua do Carmo, em Lisboa, desde 1931, encerrou no dia 29 de dezembro de 2017, com o termo do contrato de arrendamento, e o alegado desacordo entre o proprietário do edifício e arrendatário, proprietário da livraria, quanto ao montante da renda a pagar.
Classificada como Loja com História pela Câmara de Lisboa, a Aillaud & Lellos deixa um património construído que tem de ser mantido no edifício, pelo proprietário e pela atividade que se vier a acolher, como garantiu à agência Lusa a vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, enumerando a fachada, o espaço interior e o mobiliário Arte Déco da loja, desenhados por António José Ávila do Amaral, colaborador do arquiteto Cassiano Branco.
A Book House surgiu na década de 1990, num centro comercial da zona Saldanha-Picoas, em Lisboa, chegou a ter várias lojas abertas em Lisboa, mas, nos últimos anos, a sua presença limitou-se a uma só e ao 'site' na Internet, que também encerrou.
No comunicado hoje divulgado, a SPA apela ao exemplo de França, recordando que, em todo aquele território, existem 2.500 livrarias profissionais, e sublinha o “ambicioso plano de apoio às livrarias independentes”, que foi anunciado em 2013 pela então ministra da Cultura de França, Aurélie Filippetti, com a justificação de que “a livraria se inscreve, como as bibliotecas, numa rede que permite a criação e a diversidade cultural”.
A SPA lembra que algumas livrarias em Portugal prolongam a própria atividade cultural de forma descentralizada e com forte implantação nas comunidades locais, recomendando ao Governo que analise os “mecanismos de apoio às livrarias vigentes em França, com destaque para os criados pelo Centro Nacional do Livro e pelas direções-gerais dos assuntos culturais e pela criação do selo de ‘livraria de referência’”.
“Na realidade, é possível fazer mais e melhor em Portugal. Quando não há dinheiro, deve haver imaginação, agilidade e engenho, que também podem contribuir, por exemplo, para o apoio a uma coleção de reedições de obras clássicas de referência, hoje quase ausentes do mercado”, afirma.
A SPA afirma que chegou a apresentar esta proposta ao ministro da Cultura, e sublinha que os custos não são muito elevados e os resultados culturais são indiscutíveis.
Socorrendo-se uma vez mais do exemplo francês, a SPA assinala a existência de um programa de televisão - “La Grande Librairie” - que, além de entrevistar escritores e abordar temas ligados ao livro e à edição, todas as semanas revela uma livraria que, fora da capital, se bate pela difusão do livro e pela sua integração inovadora e estimulante na vida das comunidades.
A SPA manifesta-se disponível para intervir neste debate e dar o seu contributo para “esta urgente reflexão coletiva”, e adianta que poderá mesmo ajudar a criar espaços locais de promoção dos livros e discos que edita e cuja edição apoia e promove, alargando a qualidade e a diversidade da oferta cultural.
A SPA estende este seu apelo ao Presidente da República, assinalando tratar-se de uma pessoa que “gosta de livros e de livrarias e que, por certo, não ficará indiferente a este processo de mobilização de meios e de vontades que evite, a muito curto prazo, o encerramento de mais livrarias”.
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