A reabilitação do Pavilhão Rosa Mota, no Palácio de Cristal, foi inaugurada esta segunda-feira no meio de polémicas com o nome do edifício. Depois de uma parceria público-privada com a marca de bebidas alcoólicas Super Bock, o espaço passou a chamar-se Super Bock Arena — Pavilhão Rosa Mota.

A TSF avançou hoje que Rosa Mota ficou de fora da inauguração por não concordar com a forma como o seu nome está agora na imagem do pavilhão.

A alteração não agradou à atleta portuense, que enviou uma carta ao presidente da autarquia, o independente Rui Moreira, dizendo-se enganada. "Quando recebi o convite do senhor presidente da Câmara para a reabertura do Pavilhão, e no qual está escrito ‘Super Bock Arena Pavilhão Rosa Mota’ senti-me definitiva e claramente enganada", terá afirmado Rosa Mota, que estava convencida de que o nome do espaço seria "Pavilhão Rosa Mota - Super Bock Arena”, explica a telefonia.

O Pavilhão Rosa Mota, nos jardins do Palácio de Cristal, tem capacidade para oito mil pessoas e foi renovado a pensar nos espetáculos, mas também nos eventos desportivos e empresariais, dispondo agora de um auditório em anfiteatro com capacidade para 532 pessoas.

Também os vereadores da oposição na câmara do Porto anunciaram que iam faltar à inauguração do espaço por estarem contra a “menorização” do nome da atleta Rosa Mota.

Este domingo, a Câmara emitiu um comunicado, demarcando-se do processo de alteração do nome do edifício, mas sublinhando que agora "o nome da atleta está mais do que nunca protegido”.

Hoje, na inauguração, Moreira desviou o assunto. No breve discurso, na cerimónia protocolar de inauguração, no novo auditório do centro de congressos do espaço, o autarca sublinhou que “este é o tipo de projeto em que, se fizermos as coisas bem feitas, o público e o privado" podem funcionar.

Sobre a polémica, Rui Moreira recuperou a relação histórica da cidade com o vinho: “Não me venham com complexos por haver um nome associado a bebidas alcoólicas”, argumentou o autarca, enfatizando o facto de antes de haver um Porto conhecido pelo desporto e pela cultura, “já o era devido ao Vinho do Porto”.

E acrescentou: “Hoje não é dia de queixas, mas de estarmos muito satisfeitos”.

Os administradores do consórcio responsável pelo projeto alegram-se com a recuperação do espaço. Filipe Azevedo, que representa a construtora Lucios, agradece a “coragem e bom senso das decisões tomadas na génese e ao longo deste processo” de Rui Moreira, destacando o projeto como um bom exemplo de parceria público-privada.

Jorge Silva, da PEV Entertainment, destaca também o envolvimento dos privados para a reabilitação do edifício, construído em 1951, no lugar do Palácio de Cristal, do século XVIII. Agora, “é tempo de futuro”, e o emblemático edifício tem de se tornar na “nave especial” da cidade. Apela ainda às “forças vivas da cidade para que acolham e se envolvam” no novo projeto, para que seja possível que o espaço se afirme como o palco de “um Porto moderno”. “A partir de hoje, esses grandes eventos podem acontecer na nossa cidade, numa sala moderna e apetrechada com as melhores tecnologias”.

Manuel Violas, presidente do conselho de administração do Super Bock Group, diz que esta obra “é um motivo de orgulho” para a marca, lembrando as memórias que a cidade tem do espaço — dos animais aos campeonatos do mundo de hóquei. “Só podia ser a Super Bock a associar o seu nome ao Pavilhão Rosa Mota”, defende o presidente do conselho de administração da marca de Leça do Balio, ao lado do Porto.

Oposição contesta o nome e falta à inauguração

Na reunião do executivo desta manhã, os vereadores do PS, PSD e CDU lamentaram que o nome do pavilhão seja agora “Super Bock Arena — Pavilhão Rosa Mota”, reiterando a posição que tinham assumido em novembro do ano passado, aquando da aprovação da proposta de acrescentar ao nome Pavilhão Rosa Mota a designação daquela marca de cervejas.

No período antes da ordem do dia, o vereador do PS Manuel Pizarro defendeu que a Câmara do Porto tinha "a faca e o queijo na mão" quanto a autorizar ou não o acréscimo do nome e "decidiu passar essa faca e o queijo para o lado do promotor”.

"Espero que a Câmara tenha reservado autoridade suficiente para mediar este conflito (…). Não é uma solução boa. O presidente tem todas as condições para o resolver, desde que tenha vontade política", disse, sublinhando que, tal como Rosa Mota, também os vereadores do PS não iriam comparecer à reabertura daquele pavilhão, esta tarde.

Também a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, disse estar solidária com a posição assumida pela atleta, considerando que "o que lá está é uma usurpação do nome", motivo pelo qual, entre outros, também não se faria representar na cerimónia.

"Acho que não se deve aceitar. Exijam aos promotores que façam esta diferença [alteração do nome de Super Bock Arena — Pavilhão Rosa Mota para Pavilhão Rosa Mota — Super Bock Arena]", afirmou.

Também o vereador do PSD, Álvaro Almeida, considerou que é necessário exigir que seja respeitada uma decisão tomada no seio do executivo municipal, que aprovou um acrescento à designação e não a alteração do nome.

Para o vereador, a autarquia devia exigir que a designação do espaço fosse "Pavilhão Rosa Mota - Super Bock Arena" e exigir que o nome da atleta tivesse o mesmo destaque no logótipo do que a marca de cervejas.

Aos vereadores, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, referiu que considera que o "incómodo" existente é com o logótipo, sublinhando que a autarquia não tem meios nem recursos para se opor.

Apesar de o logótipo ter começado a ser conhecido em março, só na quinta-feira, sublinhou Moreira, é que esta questão foi levantada, aquando de uma reunião que manteve com a atleta Rosa Mota e o seu marido.

Num comunicado desta segunda-feira, a estrutura local do Bloco de Esquerda (BE) manifestou-se também contra a alteração do nome do pavilhão Rosa Mota e quer que a Câmara do Porto promova uma discussão alargada para o regresso daquele equipamento à esfera pública e municipal.

No documento, o BE quer “reverter de imediato esta apropriação indevida, impedindo a alteração do nome daquele que é e será, para o Porto, o Pavilhão Rosa Mota”, ao mesmo tempo que pretende uma “discussão alargada na cidade que permita a renegociação do contrato e seu regresso à esfera pública e municipal”.

Lembrando terem estado “contra a entrega do Palácio de Cristal a entidades privadas pela mão de Rui Rio, em 2009, a par do movimento que na altura se gerou no Porto” e que em 2014 “denunciaram na Assembleia Municipal o modelo de reabilitação deste equipamento municipal essencial à cidade, votando contra a proposta de entrega a privados apresentada por Rui Moreira”, o BE aponta para as contas do município para justificar a sua posição.

“Não salvaguardou o interesse da cidade do Porto”, acusam os bloquistas.

Lamentando que “não só o Pavilhão Rosa Mota ficará alheado da gestão pública durante 20 anos, como até a sua toponímia ficou subalternizada aos interesses privados e do negócio”, o BE frisou ser Rosa Mota “uma figura marcante do desporto nacional e um símbolo de empenhamento e esforço que tanto diz à cidade do Porto”.

Câmara sublinha que "o nome da atleta está mais do que nunca protegido”

Este domingo à noite, dia 27 de outubro, o executivo de Rui Moreira reagiu, num comunicado enviado às redações, a “notícias postas a circular por pessoas próximas à atleta Rosa Mota”, lembrando que “embora batizado com o nome da atleta, não tinha qualquer inscrição do seu nome nem na fachada em nenhum local visível. Nunca teve, aliás”.

O independente disse também que “o investimento foi totalmente suportado por privados, que encontraram a forma de financiamento adequada”, tendo pedido para alterar o nome do equipamento, “o que foi recusado pelo presidente da Câmara”.

“Foi, contudo, admitido que pudessem colocar um patrocinador, que ajudasse a suportar os elevados custos de reabilitação, conforme aprovado em reunião de executivo e conforme o previsto no caderno de encargos”, explica o município.

“Nesse processo”, continua, “ficou assegurado que ninguém poderia retirar o nome da atleta da designação formal, mas que também no uso comercial o seu nome teria sempre de estar presente. Estes dados foram fornecidos à atleta, que com eles concordou e se congratulou há mais de um ano”.

A autarquia afirma ainda que “a atleta e o seu representante terão entrado em negociações com o patrocinador e em conversações com o concessionário. Desconhecemos o que estava em jogo, o que negociaram as partes e que tipo de contrapartidas incluía tal negociação, tentada à margem do processo público de concessão. Não fomos pela atleta ou pelo seu representante convidados a participar em tais reuniões.”

“A Câmara do Porto considera que o nome da atleta está mais do que nunca protegido, não compreendendo que alguém se possa considerar mais respeitado dando nome a um edifício em pré-ruína e sem uso, do que num moderno centro de congressos onde a sua designação está claramente inscrita. E não tem preconceitos quanto à existência de patrocinadores comerciais que, como noutros equipamentos semelhantes noutras cidades, ajudam à concretização de objetivos de interesse público não onerando os impostos dos cidadãos”, conclui a mensagem.

*Com Lusa