Numa audição de quase três horas, na comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar, em junho de 2017, Luís Neves afirmou que sentiu, da parte da PJ Militar, então dirigida pelo coronel Luís Vieira, uma “enorme repulsa” por ser a Judiciária a investigar, por decisão da Procuradora-Geral da República.
Sem nunca acusar diretamente a PJM pelas fugas de informação, o diretor da PJ afirmou que a sucessão de notícias sobre a investigação “matou” o “efeito surpresa” das investigações, que “ficou irremediavelmente perdido”.
“Foi absolutamente catastrófico”, disse, referindo que “a comunicação social fez o seu trabalho”, deu notícias.
Mas, acrescentou, a “investigação foi destruída e esventrada”.
O diretor da PJ falou nestes casos após recordar reuniões em que era discutida a estratégia e, depois, “tudo o que era dito aparecia replicado na comunicação social”.
Luís Neves confirmou que agentes da Judiciária foram barrados à entrada da base de Santa Margarida, após o “achamento” de parte do material roubado em junho de 2017, recuperado quatro meses depois na Chamusca, mas acrescentou que não tinha havido, no passado, indícios de problemas.
Quanto à recuperação do material roubado, em 18 de outubro de 2017, Luís Neves confirmou a tese de encenação e apontou a incoerência de a PJ Militar ter mencionado um “telefonema anónimo” e de, no comunicado da Judiciária, ter escrito que o “achamento” se deveu a uma investigação.
Uma contradição que, disse, “adensou as suspeitas de que se tratava de uma encenação”.
Luís Neves insistiu ainda que a ação da PJM, que levou à recuperação do material, “desrespeitava a ordem e o despacho de delegação de competências” da PGR na PJ.
Durante horas, nesse dia 18 de outubro, descreveu, agentes da PJ estiveram à porta de Santa Margarida, para onde foi levado o armamento, depois de os militares terem recolhido o material, na Chamusca, que não foi analisado pela PJ, por já estar "contaminado".
O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos, foi noticiado em 29 de junho de 2017 e parte do equipamento foi recuperado quatro meses depois.
O caso ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
Este processo levou à demissão, ainda em 2018, do ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, e do chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte.
A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, pedida pelo CDS-PP, vai decorrer até junho de 2019, depois de o parlamento prolongar os trabalhos por mais 90 dias.
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