"Luís Montenegro tem muito jeito para a propaganda e foi isso que foi esta declaração após o Conselho de Ministros, porque anuncia um pacote de medidas de 10 mil milhões de euros em que na verdade não há dinheiro novo", criticou Rui Tavares, em declarações aos jornalistas na sede nacional do partido, em Lisboa.

Na opinião do Livre, um primeiro-ministro que "levasse a sério o seu cargo e que não utilizasse os conselhos de ministros para operações de propaganda", estaria neste momento a dizer ao país que uma das primeiras tarefas, possivelmente, do próximo parlamento será a "negociação de um orçamento retificativo, precisamente no período em que acabam estes 90 dias de suspensão temporária das tarifas de Donald Trump".

O partido manifestou-se disponível para um "debate nacional" sobre este tema, e salientou que o país pode vir estar "em face de uma recessão equivalente" à da pandemia covid-19.

Rui Tavares defendeu que este eventual orçamento retificativo pode vir a ser necessário para introduzir mecanismos como um "lay-off" para empresas que face às taxas aduaneiras se vejam obrigadas a despedir funcionários.

"Se conseguem documentar que é por causa dessa guerra tarifária que estão a correr o risco de ter de despedir trabalhadores e se apresentarem um plano alternativo para as suas exportações, pois bem, o Estado deve apoiar essas empresas para que os trabalhadores não sejam despedidos, para que não se perca aquela capacidade e aquela qualificação de gente", acrescentou.

Interrogado sobre o porquê de dizer que não está em causa “dinheiro novo”, Tavares respondeu que os fundos anunciados são apenas “uma reorientação de fundos que já estavam no Banco de Fomento e do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR]”, alertando que este banco “não tem conseguido fazer chegar dinheiro às empresas”.

Tavares advogou que “os apoios devem ser dirigidos para a busca de novos mercados de exportações” e não para a “compensação das tarifas por parte dos Estados Unidos”, caso contrário, os contribuintes portugueses estarão a “pagar para se manterem maus hábitos”.

Depois de hoje o Conselho de Finanças Públicas (CFP) ter previsto um saldo orçamental nulo para este ano e um regresso aos défices em 2026, devido a medidas de aumento da despesa pública, Rui Tavares acusou Luís Montenegro de ter governado “a pensar em campanha eleitoral o tempo todo” e chegou a compará-lo a José Sócrates.

“Gasta o dinheiro antes de uma crise global e quando chega à crise global não tem almofada”, criticou.

Além de Sócrates, Tavares comparou a atuação de Montenegro à de Trump.

“Donald Trump aumenta aquilo que é, na prática, um imposto sobre o consumo que apanha toda a gente, em particular, os mais pobres, para, com isso, ganhar recursos que vai gastar num grande corte de impostos aos mais ricos. Montenegro não é assim tão diferente: o que fez foi gastar muito dinheiro nos que já são beneficiados, com o IRS Jovem, com o IRC, e agora não terá uma almofada para poder apoiar, por exemplo, a economia portuguesa onde é necessário”, sustentou.

O líder do Livre criticou ainda o Governo por defender que a prioridade deve ser a negociação com os Estados Unidos da América, contrapondo que o objetivo da União Europeia deveria ser a "resiliência e a autonomia estratégica da economia europeia".

Rui Tavares disse que tanto o primeiro-ministro como o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, "não conseguiram" escolher entre Trump e Kamala Harris ou entre Trump e Hillary Clinton em recentes eleições norte-americanas e que o Livre avisou que um segundo mandato de Trump "ia ser uma presidência muito mais imprevisível, muito mais autoritária e muito mais inimiga da Europa".