"Os problemas do SNS são problemas que a semana de quatro dias pode resolver”, nomeadamente no que toca ao absentismo e à insatisfação dos trabalhadores do setor público pela elevada carga laboral, afirmou Pedro Gomes, que esteve hoje a ser ouvido na comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, na Assembleia da República, para apresentação das conclusões do relatório final sobre o projeto-piloto da Semana de quatro dias, na sequência de um requerimento do Bloco de Esquerda (BE) e do Livre.
O responsável admitiu que para "um hospital passar à semana de quatro dias, com esta visão de reorganização do trabalho" [...] "seria necessário contratar mais trabalhadores" e adotar inteligência artificial.
A posição foi também defendida por Rita Fontinha, que ainda assim prefere que a experiência arranque pelos centros de saúde. Segundo a investigadora e também coordenadora do estudo houve "muitos" centros de saúde que chegaram a contactá-los para participar no projeto-piloto da semana de quatro dias.
Para já, os coordenadores do projeto-piloto consideram "cedo" para fazer alterações na legislação laboral para incorporar esta possibilidade, defendendo que se deve continuar a testar em diferentes setores. E antecipam que possa chegar à Administração Pública. "O que sabemos é que começaram a avançar na preparação", disse Pedro Gomes, sublinhando "que é uma possibilidade", se houver o aval do novo Governo.
Pedro Gomes defendeu ainda que, na semana de quatro dias a “redução do tempo de trabalho é essencial”, mas, por outro lado, tem que haver “uma reorganização do trabalho”, dado que é isso que “dá viabilidade económica” à medida. O coordenador do projeto-piloto aponta que “há outras formas de reduzir o tempo de trabalho”, nomeadamente a implementação das 35 horas semanais para todos os setores ou mais dias de férias, mas a ideia da “semana de quatro dias é concentrar essa redução em mais dias livres que são regulares”, o que não acontece com os exemplos mencionados.
Em causa está uma modalidade de trabalho em que há lugar à redução do horário semanal de trabalho, sem que haja redução do salário e que foi aplicada na prática, ao longo de seis meses em Portugal por 41 empresas (das quais 21 empresas a coordenarem o começo do teste através do projeto-piloto em junho de 2023).
“A vantagem do piloto foi dar às empresas um quadro branco para encontrarem uma solução”, tendo em conta estas “duas dimensões", notou o professor de Economia, referindo que nos últimos 30 anos houve “mudanças estruturais” na economia, nomeadamente ao nível da tecnologia ou a nível demográfico, mas ainda assim “continuamos a trabalhar da mesma forma”.
Já Rita Fontinha realçou que “a mudança organizacional é difícil e as pessoas tendem a ser resistentes” às mesmas, mas sublinhou que “diferentes modelos de coordenação podem coexistir dentro da mesma empresa”.
A também professora associada de Gestão Estratégica de Recursos Humanos na Henley Business School destacou ainda que o desempenho dos trabalhadores era uma das principais preocupações e notou que mais de 80% das empresas registaram um aumento das receitas e 70% viram os lucros aumentar.
Por outro lado, houve avanços “muito significativos” a nível da saúde mental e foi observado que “as mulheres valorizam muito mais do que os homens” a semana de quatro dias, assim como “as pessoas com filhos ou enteados” e as “pessoas que auferem menos de mil euros”.
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