As certidões permitem que relacionamentos LGBTQ+ sejam tratados como casamento em alguns serviços públicos, em questões como habitação, saúde e assistência social.
Desde 2015 que mais de 200 municípios ou autoridades locais no Japão já oferecem certidões a casais homossexuais para facilitar certos procedimentos, mas esse estatuto não confere os mesmos direitos que o casamento concede nos termos da lei. Ainda assim, a medida representa uma mudança bem-vinda para casais como Miki e Katie, que, durante muito tempo, não tiveram uma prova oficial do seu relacionamento.
"O meu maior medo era de que nos tratassem como desconhecidas numa emergência", disse Miki à AFP na sua residência, cujo frigorífico é decorada com fotografias desta japonesa de 36 anos e da sua companheira americana, de 31 anos.
Na manhã de 28 de outubro, 137 casais já tinham solicitado a certidão, segundo a governadora de Tóquio, Yuriko Koike. "Quanto mais pessoas usarem estes sistemas de união, mais coragem a nossa comunidade terá de conversar com a família e os amigos sobre os seus relacionamentos", acredita Miki, que pediu para não ter o nome completo divulgado.
"Com este sistema em Tóquio, espero sinceramente que possamos acelerar os esforços para criar uma sociedade onde os direitos das minorias sexuais possam ser protegidos e sejam mais iguais", declarou a ativista Soyoka Yamamoto à imprensa.
Yamamoto e a sua companheira Yoriko, que moram juntas há mais de uma década, receberam a certidão durante a manhã. "Espero que agora possamos ter acesso a várias instalações e serviços sem precisar de explicar o nosso relacionamento", disse Yoriko, que considerou a medida "um grande passo em frente".
Nos últimos anos, o Japão, dirigido por um partido conservador que abraça os valores familiares tradicionais, deu pequenos passos para aceitar a diversidade sexual.
Cada vez mais empresas apoiam o casamento igualitário, e as personagens LGBTQ+ aparecem mais abertamente em programas de TV. Uma sondagem de 2021 do canal NHK mostrou um apoio de 57% ao casamento igualitário e 37% de manifestações contrárias.
Mas ainda existem obstáculos. Um tribunal em Sapporo considerou no ano passado que a ausência de casamento legal entre pessoas do mesmo sexo violava o princípio constitucional da igualdade, mas em junho um tribunal de Osaka decidiu o contrário.
O primeiro-ministro Fumio Kishida foi cauteloso a respeito da possibilidade de reconhecimento a nível nacional das uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Um político do Partido Liberal Democrata (o mesmo de Kishida), Noboru Watanabe, foi criticado no mês passado depois de afirmar que o casamento entre pessoas do mesmo sexo era "repugnante".
Embora seja bem-vindo, o novo sistema de Tóquio tem limitações: não reconhece o direito à herança, tampouco permite solicitar um visto de casal no caso de relacionamentos entre japoneses e estrangeiros.
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