
O dossiê de candidatura foi na sexta-feira remetido para a Comissão Nacional da UNESCO (sigla em inglês de Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
“A candidatura visa reforçar a importância cultural do Carnaval de Torres Vedras, assegurar o compromisso com a sua preservação e aumentar a sua visibilidade internacional”, sublinhou a autarquia.
No âmbito da preparação da candidatura, foi definido um plano de salvaguarda para fazer face aos riscos da homogeneização das práticas culturais com a globalização, ao desinteresse das novas gerações com as tradições do Carnaval e à massificação do evento.
“É necessário garantir a transmissão intergeracional da festa através da implementação de medidas de salvaguarda, protegendo os elementos tradicionais, mas simultaneamente mantendo-a uma herança viva”, é referido no plano.
Entre as medidas de salvaguarda constam a preservação dos elementos mais tradicionais do Carnaval de Torres Vedras enquanto expressão da cultura popular portuguesa, a transmissão intergeracional de saberes e práticas associadas à festividade, a promoção da crítica social, do humor e da criatividade na produção de textos e na expressão plástica, a salvaguarda de memórias e uma gestão sustentável do evento.
O município assinou também uma declaração de princípios para o turismo sustentável durante a festividade, comprometendo-se a desenvolver uma estratégia de turismo cultural que promova o Carnaval como manifestação cultural e não apenas como festa.
Em 2022, o Carnaval de Torres Vedras foi inscrito como Património Cultural Imaterial Nacional por ser considerado “o mais português de Portugal” e se manter fiel às tradições do Entrudo português.
É conhecido pela sátira social e política, a originalidade dos seus carros alegóricos e pela forte participação popular e envolvimento da comunidade.
São características do Carnaval de Torres Vedras o facto de dois homens locais desempenharem os papéis de Rei e Rainha, a existência de uma “dinastia” dos títulos dos reis, as 'matrafonas' (homens com roupas e acessórios habitualmente usados por mulheres), as celebrações da chegada e entronização dos reis e a participação da comunidade.
O Carnaval de Torres Vedras, que em 2023 comemorou o seu centenário, insere-se nas tradições do Entrudo português, cujas raízes remontam às festas pagãs relacionadas com as festas de inverno e com os cultos de fertilidade e da abundância no início da primavera, incluídos pelo cristianismo no calendário litúrgico.
As manifestações do Carnaval espontâneo em Torres Vedras, característica que persiste até hoje, remontam ao século XIX, mas foi em 1923 que uma elite local republicana e um grupo social comercial/industrial emergente iniciou os festejos organizados nas ruas.
Os primeiros reis, dois homens, e a comitiva régia, composta por ministros, embaixadores e ‘matrafonas’ surgiram em 1924.
Em 1941 e 1945, os festejos foram interrompidos com a Segunda Guerra Mundial, e em 1953, 1954 e 1956, no período do pós-guerra, mas foram revitalizados nas décadas de 60 e 70 do século passado, tendo aí aparecido as figuras dos Zés Pereiras, os carros alegóricos e o primeiro passeio trapalhão, que permaneceram até hoje.
Nas décadas de 80 e 90, o Carnaval ganhou dimensão graças à sua mediatização, tendo a organização passado para a câmara municipal e para uma comissão.
Em 1990, passou a haver corso escolar, desde 1999 é erguido no centro da cidade um monumento alusivo ao Carnaval e, em 2000, a organização foi entregue à empresa municipal Promotorres.
Nos últimos anos, o evento passou a atrair meio milhão de visitantes nos cinco dias em que ocorre e gera receitas de cerca de 12 milhões de euros na economia local.
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