“A greve não está fora de questão”, disse à Lusa Eduardo Rita, secretário geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT).
“Vamos ter a assembleia geral do sindicato no próximo mês e possivelmente daí irá sair uma greve geral nos CTT por causa do IOS”, o subsistema de saúde conhecido como Regulamento de Obras Sociais e que a administração da empresa substituiu por um novo Plano de Ação Social (PAS), “com prejuízo para os trabalhadores”.
A concentração agendada para hoje pela Comissão de Trabalhadores e todos os sindicatos representativos dos CTT teve como objetivo “protestar contra a atitude da administração” dos Correios, que decidiu “unilateralmente” anular o IOS e aplicar o PAS a partir de janeiro.
O SNTCT recorda que o regulamento “só podia ser alterado com o acordo das partes” e, por isso, avançou com um processo em tribunal.
A primeira acareação de partes está agendada para 08 de maio, adiantou Eduardo Rita.
As negociações entre administração e sindicatos iniciaram-se em setembro, mas não resultaram em acordo.
“Nós estamos disponíveis para negociar uma coisa séria”, garante o dirigente sindical.
Alda Rosário, coordenadora da Comissão de Trabalhadores dos CTT e carteira na central de Lisboa, criticou os cortes nos apoios, numa altura em que a empresa regista lucros.
Em 2023, os CTT, hoje uma empresa privada a 100%, alcançaram resultados líquidos de 60,5 milhões de euros, um aumento para quase o dobro em relação ao ano anterior.
“Achamos que não é justo aquilo que os CTT estão a fazer aos trabalhadores dos Correios. Estamos a pagar mais por menos, hoje em dia”, realça.
A alteração no subsistema, que abarca 35 mil beneficiários, significou, nomeadamente, o aumento da quota e da comparticipação suportada pelos trabalhadores (que passou de 43,6% para 55%).
Alda Rosário diz que os trabalhadores esperam que a administração volte atrás. “Estamos disponíveis para reunir e (…) voltar ao regulamento que tínhamos anteriormente. Pelo menos com essas condições, senão melhores”, sublinha.
Pedro Faróia, carteiro na central de tratamento de correspondência de Cabo Ruivo, explicou à Lusa o “grande impacto” que a alteração do subsistema de saúde provocou na sua vida.
Pai de uma filha pequena, com autismo, beneficia agora de reembolsos menores (desceram de 75 para 67,5%).
Além disso, “pagam atrasado, arranjam sempre problemas”, relata.
“Mais grave” ainda, “já não há nenhum médico convencionado” como terapeutas da fala, terapeutas ocupacional, neuropediatras.
“Tivemos que recorrer a médicos fora do subsistema de saúde. (…) O guia de prestadores continua a mostrar que há muitos serviços, mas isso é uma mentira, cada vez há menos médicos a trabalhar para a Médis CTT”, refere.
Residente no concelho de Sintra, um dos mais populosos do país, o carteiro imagina “as dificuldades” acrescidas em zonas mais isoladas do país.
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