Segundo explicou a vereadora Laurinda Alves, a maioria desses cerca de 60 jovens não são de origem ucraniana, mas estavam neste país afetado pela guerra a frequentar diversos cursos superiores, que foram interrompidos por causa do conflito com a Rússia.
“Temos ali cerca de 60 jovens, rapazes, que vieram da Ucrânia, que não são ucranianos nascidos na Ucrânia, mas estavam a estudar Medicina, Finanças, Gestão, Arquitetura, Design, portanto chegaram cá e, porque não são brancos, estão lá, ninguém os quer […] é realmente uma realidade muito difícil e não é só racismo, também é, no imaginário comum, se nós dissermos ‘um marroquino, um argelino, um rapaz que vem da Costa do Marfim, um muçulmano’, as pessoas nem sempre sabem como é que hão de acolher”, afirmou a vereadora dos Direitos Humanos e Sociais na Câmara de Lisboa, Laurinda Alves (independente eleita pela coligação Novos Tempos (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança).
Sem referir a existência de pessoas de nacionalidade ucraniana nesta situação, a vereadora associou a espera por uma solução de alojamento às características físicas e às diferenças culturais das pessoas que também fogem da guerra na Ucrânia mas que têm outras nacionalidades como marroquina ou argelina: “São culturas diferentes e há um choque cultural, portanto tem sido um bocadinho mais difícil”.
A informação foi dada na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, no âmbito da apreciação do balanço apresentado pelo presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), sobre o trabalho do executivo camarário nos últimos dois meses, e em resposta a questões da deputada municipal do BE Joana Teixeira relativamente à “disparidade de 97 pessoas” entre as acolhidas no centro de acolhimento de emergência e as que foram encaminhadas para uma resposta de alojamento.
Os dados da Câmara de Lisboa indicam que, entre março e maio, foram atendidas 2.339 pessoas no centro de acolhimento de emergência, instalado num pavilhão desportivo da Polícia Municipal, na freguesia de Campolide, e foram encaminhadas 2.242, o que significa que 97 refugiados aguardavam uma solução subsequente de alojamento.
O presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), reforçou que o município vai continuar a apoiar os refugiados da Ucrânia, inclusive com o programa “VSI TUT – Todos Aqui”, e explicou que o centro de acolhimento de emergência foi criado como espaço de apoio imediato, em que as pessoas devem passar “o mínimo tempo possível”, para serem encaminhadas para uma solução de alojamento promovida pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e pela Segurança Social.
“Temos um grupo de à volta de 80 pessoas que estão quase há um mês no centro de acolhimento porque não tem essa solução […]. Podemos estar a ajudar, mas não podemos ser a substituição do Estado. Ainda não há uma solução do ACM nem da Segurança Social, portanto não podemos abandonar essas pessoas”, disse o autarca do PSD.
Em complemento à resposta do presidente da câmara, a vereadora Laurinda Alves revelou que “os números já melhoraram um bocadinho”, em que passaram de 84 refugiados que estavam a pernoitar no centro de acolhimento há três ou quatro dias para cerca de 60 pessoas.
“Temos conseguido alguns milagres, mas ainda falta este milagre de tirar de lá estes 60, um por um”, afirmou a responsável pelo pelouro dos Direitos Humanos e Sociais.
Relativamente a esse grupo de 60 jovens vindos da Ucrânia, Laurinda Alves adiantou que foram já apontadas todas as competências que têm, em que “muitos deles têm a expectativa legítima de continuar a estudar”, e a câmara está a juntar escolas e possibilidades de emprego para encontrar uma resposta.
A vereadora reforçou ainda que estes jovens refugiados são “educadíssimos e uma lição de vida”, indicando que estão a pernoitar no centro de acolhimento “há muito tempo, há tempo demais, a dormir naquelas camas de burro, como se costuma dizer, porque não chegam a ser camas”.
No âmbito do Dia Mundial do Refugiado, que se assinalou na segunda-feira, a organização do Rock in Rio Lisboa fez um convite direto para que este grupo de jovens refugiados fosse ao festival de música, indicou a vereadora, acrescentando que também foi pensado convidar “as pessoas em situação de sem-abrigo, mas também ficava complicado, nomeadamente porque há situações de consumos e que poderíamos estar a potenciar”.
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