Os residentes no bairro Mong Kok começaram a fazer fila horas antes de o jornal chegar às bancas, ainda de madrugada.
Às 8:30 da manhã (01:30 em Lisboa), a última edição do Apple Daily estava esgotada na maioria dos quiosques da cidade, de acordo com a agência de notícias Associated Press (AP).
Na noite de quarta-feira, mais de uma centena de pessoas estiveram à porta do edifício do jornal, à chuva, para apoiar os jornalistas que trabalhavam na edição final, a tirar fotografias e gritando palavras de encorajamento.
A primeira página da última edição mostra um funcionário do jornal a acenar aos apoiantes que rodearam o edifício, com o título “Residentes de Hong Kong fazem despedida dolorosa à chuva: ‘Apoiamos o Apple Daily'”.
Fundado em 1995, o Apple Daily foi um firme apoiante do movimento pró-democracia e dos protestos antigovernamentais que abalaram o território em 2019.
O proprietário do diário, o magnata Jimmy Lai, cumpre atualmente uma pena de vários meses de prisão pela participação nas manifestações, e enfrenta ainda acusações por “conluio com forças estrangeiras”, alegadamente por defender sanções contra dirigentes de Pequim e de Hong Kong.
O jornal anunciou o fim das operações na quarta-feira, após o congelamento dos bens pelas autoridades de Hong Kong.
Na semana passada, mais de 500 polícias invadiram as instalações do diário, numa operação que resultou na detenção de cinco responsáveis e no congelamento de bens no valor de 18 milhões de dólares de Hong Kong (cerca de 1,9 milhões de euros) de três empresas ligadas ao Apple Daily.
Dois responsáveis do jornal foram detidos e acusados de “conspirar com forças estrangeiras”, ao abrigo da lei de segurança nacional, imposta no ano passado por Pequim à região semiautónoma chinesa.
Três outros responsáveis do jornal foram, entretanto, postos em liberdade sob caução.
Esta foi a primeira vez que opiniões políticas publicadas por um órgão de comunicação social de Hong Kong levaram a um processo judicial, ao abrigo da controversa lei da segurança nacional.
Na quarta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, escreveu na rede social Twitter que “o encerramento forçado” do jornal pelas autoridades de Hong Kong “é uma demonstração arrepiante da campanha para silenciar todas as vozes da oposição”.
Também a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Maria Adebahr, considerou o encerramento um “duro golpe contra a liberdade de imprensa” no território.
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