Pingado, curto, longo, expresso, com leite, sem princípio, americano, abatanado, italiana ou descafeinado. Estas são algumas das múltiplas formas de vida que uma borra de café pode assumir.

Vítor Martins, presidente da Associação Industrial e Comercial do Café (AICC), inspirou-se nesta diversidade da bebida com ou sem cafeína para abordar o conteúdo do projeto de Reciclagem de Cápsulas de Café́, que junta a AICC, a câmara municipal de Cascais, através da Cascais Ambiente, e 12 marcas de café.

“É um café com princípio, meio e fim”, sustentou ao SAPO24 à margem da assinatura do protocolo entre a associação a que preside, o município de Cascais e as marcas Bellissimo, Bogani, Buondi Caffè, DeltaQ, Nescafé Dolce Gusto, Nespresso, Nicola, Segafredo, Sica, Starbucks, Torrié e UCC. “Espera-se também que a reciclagem não tenha fim e que o fim seja uma nova vida”, acrescentou ainda.

Em fase piloto, seis ecocentros fixos e dois móveis inseridos na rede de Ecocentros de Cascais passam agora a recolher, reciclar e valorizar as cápsulas de café usadas. Estas são posteriormente recolhidas e armazenadas pela Tratolixo para reciclagem.

As três novas vidas dos elementos de uma cápsula de café

“A cápsula é triturada e os elementos separados em três. O alumínio é 100 por cento reciclável e dá para fazer outras cápsulas ou produtos à base do alumínio. Do plástico faz-se outros produtos de plástico não-alimentar, desde o mobiliário urbano a embalagens. E a borra de café é utilizada para compostos agrícolas ou pelets de aquecimento”, explicou Claúdia Pimentel, secretária-geral da AICC.

As componentes para aquecimento merecem um esclarecimento adicional. “É um projeto em fase inicial num país nórdico, mas já fomos contactados. Permite poupar árvores, aquecer as casas e tem um cheiro acrescido: o cheiro a café”, sorriu.

Em relação ao aproveitamento das borras, a secretária-geral da AICC recordou a manutenção, em paralelo, das ações já existentes por parte de algumas marcas, como sejam as da Nespresso (arroz) ou Delta (cogumelos), bem como das práticas de recolha de cápsulas, feitas em lojas.

O projeto de reciclagem arrancou em Cascais, mas não quer ficar plantado no litoral. “Tínhamos de começar por um local e foi em Cascais. São 250 mil portugueses, mas queremos mais. Somos 10 milhões”, apontou Vítor Martins, abrindo a porta ao resto do país.

Presente na apresentação desta iniciativa pioneira em Portugal que decorreu na escola IBA Mucana, em Alcabideche, Mónica Balsemão, vereadora do Ambiente de Cascais, fixou num número. “39 mil cápsulas são produzidas por minuto no mundo e uma percentagem demasiado pequena é reciclada”, garantiu.

Para a vereadora, “a economia linear, consumo imediato e descarregar, não faz sentido aqui”, afirmou. “Agora nasceu uma solução. Desviar as cápsulas do aterro, reciclar no invólucro e valorizar o conteúdo, as borras. A partir da agora serão reutilizadas na economia, na economia circular”, reafirmou. “São políticas públicas maduras que se fazem em parcerias. Setor público e privado alinhados com a inovação para reciclar”, concluiu.