“A Cereja do Fundão tem responsabilidade social e ambiental”, diz Paulo Fernandes diretamente do seu gabinete na Câmara Municipal do Fundão e a participar via Skype nesta conversa do SAPO24, parte da iniciativa Plenário.

Primeiro, no que toca à responsabilidade ambiental, o autarca diz que não aceita que alguém utilize a marca Cereja do Fundão sem que, no mínimo, a produza de forma integrada. “Sem boas práticas ambientais não há hipótese de comercializar sobre a marca Cereja do Fundão, mesmo podendo ser de um produtor do Fundão — e  isso são questões de alguma coragem do ponto de vista local, porque mesmo produtores que são do Fundão podem não ter capacidade e possibilidade de utilizar a marca se não tiverem boas práticas”, salienta, contraponto que, por outro lado, outros produtores, que não são do Fundão, podem utilizar a marca se a sua produção, no caderno de encargos, mostrar responsabilidade ambiental.

Segundo, a responsabilidade social. “Hoje, uma parte dos nossos trabalhadores vem do mundo, temos trabalho temporário, mas eu queria o primeiro centro de trabalho temporário público. Não quero minimamente poder ser conectado com más práticas laborais na apanha da Cereja do Fundão. Por isso, quem possa estar dentro da Cereja do Fundão tem que também ser um exemplo do ponto de vista dos contratos, do ponto de vista das condições humanitárias. As agendas cruzam-se, mas as grandes agendas, ao trazê-las para a escala local trazem também benefício para a comunidade”, assinala Paulo Fernandes.

Em estúdio, em conversa com o autarca, estiveram Marcos Sá, cronista do SAPO24 e Diogo Silva ativista da 2Degrees artivism.


Veja aqui o vídeo completo da conversa


De uma certa forma, a Cereja do Fundão consegue ser sintomática de todo o debate. Porquê? Porque conjuga a vertente das boas práticas ambientais com o investimento no interior, sendo o Fundão o exemplo de um município que procurou envolver as universidades e o investimento tecnológico e científico para melhorar, desenvolver e promover o seu maior produto.

A moda que não é uma moda

“Não é por acaso que falamos de emergência climática e que falamos de crise climática, é porque estamos muito atrasados na ação que temos de tomar para travar este desafio, que é enorme. (…) É o desafio da nossa geração. A urgência é bem-vinda porque temos 10 anos para reduzir as emissões globais em 50% e ainda nem tivemos um ano globalmente de redução de emissões. Se é moda, acho que sim e ainda bem que é moda, (…) mas a gravidade do problema e a sua dimensão não vão permitir que este passe de moda”, diz Diogo Silva.

O dicionário Priberam diz-nos que a palavra “moda” significa “uso passageiro que regula, de acordo com o gosto do momento, a forma de viver, de se vestir, etc.”. É por isso que para Marcos Sá esta luta não são umas calças à boca de sino perdidas no passado, mas sim algo que veio para ficar.

“É uma moda que veio para ficar porque o ambiente neste momento é uma matéria transversal a várias áreas, ao desenvolvimento económico, às questões dos transportes, da energia, da água, que é elementar para o desenvolvimento económico. (…) E de repente temos um desafio que é um desafio global e temos de agir localmente. A perspetiva é de mudarmos totalmente a nossa filosofia de vida. (…) Eu hoje quando faço compras penso local, vejo onde são produzidos os meus produtos, quando compro carne, compro com sentido e consciência ambiental. Portanto, toda a agroindústria vai ter de pensar a forma como está a produzir e a responsabilidade ambiental que tem. Há espaço para todos, mas todos têm de contribuir de uma forma comum para a causa do ambiente”, sublinha o cronista.

Há uma forma de viver que, sendo alterada, obrigará governos e empresas a mudar a forma de governar e produzir, diz Marcos Sá. E sobre novas formas de viver, Paulo Fernandes não tem dúvida que o interior é uma solução mais sustentável.

“Basta ver os dados estatísticos para perceber que há uma percentagem maior da população concentrada nas cidades. Isto significa que também há uma espécie de contracultura, uma espécie de reação em que as pessoas procuram uma alternativa àquilo que é a vivência nas grandes cidades. Eu sou daqueles que acredita que esse é o movimento que vai cada vez mais acontecer. Em Portugal só estamos um bocadinho atrasados relativamente ao que aconteceu em muitos países Europeus onde, para além da concentração das grandes cidades, à volta das capitais, das cidades médias regionais, houve um contra movimento e no espaço rural as pessoas também encontraram soluções de grande qualidade de vida, ambientalmente mais sustentável, socialmente mais sustentável, do ponto de vista do custo de vida, obviamente, também mais sustentável para aquilo que são os rendimentos familiares.”, sublinha o autarca.

O objetivo é ser urgente e paciente, duas palavras aparentemente antagónicas. O prazo para reverter as consequências das alterações climáticas é curto e o plano de investimento para o interior do país não se pode fazer num estalar de dedos.

A pressa é inimiga da perfeição, mas se não formos capazes de perceber que as necessidades atuais não se coadunam “com timings políticos, (...) empresariais, nem (...) como a sociedade está organizada neste momento”, diz Diogo Silva, corremos o risco de ver o planeta numa mudança irreversível e um interior desertificado à velocidade que se come um caixa de cerejas.


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