A história, partilhada esta segunda-feira pelo The Washington Post (WP), gira em torno de Roy Moore, candidato republicano ao Senado pelo estado do Alabama, apoiado por Donald Trump, e que, no último mês, foi acusado por várias mulheres de assédio sexual, quando estas ainda eram menores (denuncias feitas e publicadas inclusive pelo próprio jornal).
Na sequência do escândalo, uma mulher abordou o jornal dizendo que também ela teria sido vítima de Moore. Mais, acusava-o de a ter violado em 1992, o que levou a um aborto quanto tinha 15 anos de idade. A história revelou-se falsa e o jornal acusa-a agora de pertencer a uma organização conservadora, com um longo historial de difamações de organizações democratas e de meios de comunicação social de referência.
O WP conta que um dos seus jornalistas foi abordado no início deste mês, quando as acusações ao candidato a Senador começaram a surgir, pela mulher agora identificada como sendo Jaime Phillips, que alegava ter informações sobre o comportamento do atual candidato republicano.
Numa série de entrevistas que aconteceram ao longo de duas semanas, Phillips relatou ao WP episódios que o jornal descreve como “dramáticos” mas que deixaram a publicação em dúvida, optando por não os publicar. Tendo, mais tarde, inclusive confrontado a denunciante com algumas inconsistências nos relatos e com publicações no Facebook que colocavam em causa as suas motivações para denunciar Moore.
Phillips contou, detalhadamente, a alegada relação sexual quando ela tinha 15 anos, relação essa que teria culminado numa gravidez e consequente aborto. A mulher terá insistido em pedir aos jornalistas do WP que partilhassem a sua opinião sobre as potenciais repercussões da acusação para a candidatura de Moore caso ela decidisse denunciá-lo publicamente, o que estes se recusaram a fazer. O WP acredita que o objetivo destes pedidos era mostrar que o jornal não é imparcial na sua cobertura jornalística.
No processo de averiguação da veracidade das afirmações da denunciante, o Washington Post seguiu a mulher e viu-a entrar num edifício que serve de sede do Projecto Veritas, em Nova Iorque, organização de matriz conservadora cujo alvo é a chamada “comunicação social mainstream”, na qual se insere o WP. O ato cimentou as desconfianças do jornal, uma vez que esta organização utiliza notícias, entre outros meios, para tentar provar a subjetividade e parcialidade dos media (mas também de académicos, organizações ou membros do Governo).
Com vista a validar estas desconfianças, jornalistas do WP tentaram contactar diretamente James O’Keefe, fundador desta organização — e condenado em 2010 por ter utilizado uma identidade falsa para entrar num edifício federal com o intuito de gravar conversas secretas —, tendo mesmo chegado a questioná-lo sobre a ligação da tal Jaime Phillips ao Project Veritas. Evasivo e esquivo às perguntas dos jornalistas, o fundador tenta inverter a entrevista. O vídeo foi partilhado pelo WP.
Contra as expectativas do Washington Post, esta entrevista foi posteriormente publicada na conta de Twitter de O’Keefe, mas efetivamente com os papéis invertidos e através de vídeo bastante editado. Na conversa, O’Keef chega mesmo a questionar Aaron Davis, jornalista do WP: “O The Washington Post está a tentar cercar-me para evitar que publique o vídeo que estou prestes a publicar?”, ouve-se o fundador da organização perguntar.
O "vídeo" a que se refere aqui é na verdade um conjunto de vídeos entretanto divulgados pela conta do Projet Veritas na mesma rede social, captados por câmaras ocultas e que revelam as conversas tidas por pessoas da organização conservadora com jornalistas do The Washington Post. Mais uma vez, o objetivo é mostrar a parcialidade da publicação. Num dos vídeos, Joey Marburger, diretor de produto do jornal, é gravado a dizer que se Trump “desaparecesse amanhã, o tráfego [visitas online] cairia 40%". Noutro, um repórter especializado na área da segurança nacional, afirma que no jornal “definitivamente não gostam de Trump”.
Como resposta a todas as tentativas descritas para descredibilizar jornal, o Washington Post decidiu publicar na integra as conversas mantidas pelos seus jornalistas com Jaime Phillips, a denunciante. A decisão vai contra as regras habituais do WP relativamente às suas fontes, mas Martin Baron, diretor da publicação norte-americana, justifica a opção com o facto de se tratar tudo de um esquema, um ato de "má-fé" para com o jornal.
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