“A Universidade de Coimbra está sempre em linha com o Direito Internacional Público e acompanhará sempre o posicionamento da República portuguesa”, afirmou hoje a reitoria, em resposta escrita enviada à agência Lusa, na sequência da acampada estudantil que decorre há 24 dias em espaço universitário e de um abaixo-assinado de 162 docentes e investigadores que pediam a defesa do cessar-fogo por parte da instituição.
Na resposta à Lusa, a Universidade de Coimbra não faz qualquer referência a um apelo a um cessar-fogo imediato e permanente no território palestiniano ocupado, nem responde à pergunta sobre o porquê de não hastear a bandeira da Palestina na torre da UC, quando, no passado, o mesmo monumento apresentou as cores da bandeira ucraniana, numa alusão à invasão russa.
Questionada sobre se estaria a ser ponderado o fim de programas com instituições israelitas que possam estar associadas com a ofensiva em Gaza, a UC referiu que “distingue os povos dos regimes ou de governos”.
A Universidade de Coimbra, “salvo em circunstâncias excecionais, tem a responsabilidade de manter e reforçar pontes de diálogo e de tolerância entre os povos, em especial quando o mundo político ergue muros”, afirmou a reitoria, que em 2023 cessou o contrato com um professor russo acusado de ligações com o Kremlin, sem ter associado ao processo qualquer documento comprovativo das alegações veiculadas.
Para a UC, a necessidade de diálogo materializa-se “na existência de acordos com universidades palestinianas e israelitas, bem como no facto de estudantes palestinianos e israelitas frequentarem a UC”.
Questionada sobre as afirmações de estudantes da acampada que referiam que a segurança tinha sido reforçada junto ao local, a reitoria afirmou que os “reforços pontuais de segurança” estiveram ligados às exigências da organização do arranque oficial das comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, que contou com a presença do Presidente da República.
“Como espaço de liberdade, igualdade e diálogo, valores basilares da sua matriz identitária, a reitoria da Universidade de Coimbra reuniu-se (por 3 vezes) com os estudantes da acampada”, acrescentou.
Na resposta à Lusa, a reitoria optou por não responder a várias questões, nomeadamente se condenava a ofensiva israelita em Gaza, tal como o tinha feito em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia, ou se promoveu ou se se associou a alguma iniciativa de recolha de donativos para apoiar os afetados pela guerra em Gaza, tal como o fez em relação à ajuda ao povo ucraniano.
Vários estudantes estão acampados há 24 dias junto à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
O movimento, que começou em 21 de maio, exige que a reitoria da Universidade de Coimbra assuma um posicionamento por um cessar-fogo imediato e permanente no território palestiniano, o hastear da bandeira da Palestina na torre da universidade e o fim de todos os programas ou acordos com empresas, instituições e universidades israelitas, assim como a recusa de qualquer financiamento em currículo académico pelo Estado de Israel.
Na quinta-feira, foi também entregue um abaixo-assinado por parte de 162 docentes e investigadores, que exigem que a reitoria defenda um cessar-fogo imediato e que acabe com a cooperação científica com entidades israelitas que não tenham expressado o seu compromisso com a paz, à imagem do que foi feito pelo Conselho de Reitores das Universidades Espanholas e por várias universidades internacionais, como o Trinity College (Irlanda), a Universidade de Bergen (Noruega), a Universidade Livre de Bruxelas ou a Universidade de Ghent (Bélgica).
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