"Alguns fundos estão protegidos, no caso de Portugal e de Espanha, porque com estes fundos o regime financiava grupos paramilitares, coletivos (motociclistas armados afetos ao regime), que perpetravam a repressão (no país)", disse.
Juan Guaidó, falava numa intervenção, por videoconferência, no fórum global Conferências do Estoril que hoje começou em Cascais, mas sem fazer referência às entidades bancárias envolvidas nem aos valores "protegidos".
Em 17 de abril último, o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, exortou o Governo português a desbloquear os ativos do Estado venezuelano retidos no Novo Banco, realçando que o dinheiro será usado para comprar "todos os medicamentos e alimentos".
"Libertem os recursos [da Venezuela] sequestrados na Europa. Peço ao Governo de Portugal que desbloqueie os 1,7 mil milhões de dólares [cerca de 1,5 mil milhões de euros] que nos roubaram, que nos tiraram" e que estão retidos no Novo Banco, afirmou numa cerimónia com simpatizantes do regime.
A 15 de janeiro, o parlamento venezuelano, maioritariamente da oposição, aprovou um acordo de proteção dos ativos do país no exterior e delegou numa comissão a coordenação e o seguimento de ações que protejam os ativos venezuelanos na comunidade internacional.
Durante a intervenção de hoje, Guaidó denunciou que “há presença do subversivo Exército de Libertação Nacional da Colômbia (ELN) em 11 dos 24 Estados da Venezuela”, e ainda membros do Hezbollah e de outros grupos irregulares.
Estes grupos paramilitares, disse, estão ligados ao narcotráfico, extraem ouro do Arco Mineiro venezuelano que depois usam para comprar armamento na Colômbia.
Nesse sentido advertiu que se continuar, esta situação "poderá acentuar uma crise sem precedentes na região (América Latina), devido à penetração destes grupos irregulares".
Guaidó iniciou a sua intervenção com um "obrigado" em português, pela "oportunidade para falar sobre a crise na Venezuela", país que nos últimos seis anos registou uma contração do PIB de 60%.
Explicou ainda que "sete milhões de venezuelanos estão em crise" humanitária, o que corresponde a 25% da população e que em seis anos consecutivos houve uma "emigração alarmante" em que quatro milhões de venezuelanos fugiram do país.
Por outro lado, precisou que apenas 8% dos venezuelanos têm acesso à justiça, depois de serem julgados, que no país há mais de mil presos políticos e que 271 pessoas foram assassinadas em protestos contra o regime.
Também disse que a Venezuela vive "um dos piores momentos" da sua história, com Caracas a registar uma das taxas mais altas de homicídio do mundo e em que apesar de o país ter umas das maiores reservas de petróleo, a produção local caiu, passando de 3,5 milhões diários de barris de petróleo para apenas 500 mil atualmente.
O autoproclamado Presidente referiu ainda que desde há dois meses que a Venezuela foi sancionada internacionalmente e que as anteriores sanções, de 2017, foram aplicadas a funcionários envolvidos na violação de direitos humanos no país, alguns dos quais o regime já reconhece e persegue.
Denunciou que no país há um alto nível de corrupção e que um só funcionário recebeu 1.200 milhões de dólares de suborno da construtora brasileira Odebrecht.
Segundo Juan Guaidó, na Venezuela os juízes são designados a dedo e alertou que o vice-presidente do parlamento Edgar Zambrano continua sequestrado desde há várias semanas, sem ser apresentado perante um juiz.
Insistiu que a oposição confia plenamente numa rápida recuperação do país, após uma mudança de regime e que é importante um regime de transição para reformar as instituições, para ter eleições livres e para atender à emergência humanitária.
Durante a sua intervenção fez referência ainda a que os venezuelanos ganham apenas seis dólares por mês e que estando num país produtor de petróleo fazem filas de dois e três dias para conseguir gasolina para os seus veículos.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando Juan Guaidó jurou assumir as funções de Presidente interino e prometeu formar um Governo de transição e organizar eleições livres.
Na madrugada de 30 de abril, um grupo de militares manifestou apoio a Juan Guaidó, que pediu à população para sair à rua e exigir uma mudança de regime, mas não houve desenvolvimentos na situação até ao momento.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, denunciou as iniciativas do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderado pelos Estados Unidos.
À crise política na Venezuela soma-se uma grave crise económica e social, que já levou a quase três milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, de acordo com dados das Nações Unidas.
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