Na última semana registou-se um aumento acentuado da tensão diplomática entre a Venezuela e a Guiana devido à disputa territorial de Essequibo, uma zona de cerca de 160.000 quilómetros quadrados rica em petróleo que pertence à Guiana e que Caracas reivindica, após a realização de um referendo não-vinculativo à população venezuelana sobre a respetiva anexação.

O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) venezuelano, Yván Gil, indicou, num encontro com a comunicação social, que o Governo chavista participará “com expectativa, alegria e espírito de paz” na reunião, uma iniciativa do Brasil e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e das Caraíbas (Celac), que promoveram o encontro devido à escalada de tensão entre Venezuela e Guiana.

“O segundo objetivo, que estou certo de que alcançaremos, é uma contenção das ações, sobretudo da parta da Guiana”, disse o chefe da diplomacia venezuelana, depois de afirmar que Georgetown tem exibido “uma espécie de nervosismo” nos últimos dias.

Gil considera que a Guiana, “orientada ou instruída pela companhia Exxon Mobile”, que explora petróleo na região disputada, chegou a “ameaçar a Venezuela”, especialmente ao realizar manobras militares com o apoio dos Estados Unidos.

Reiterou que Caracas pretende “baixar a agressividade do discurso da Guiana”, sem fazer qualquer referência às decisões unilaterais da Venezuela, anunciadas por Maduro, com o propósito de anexar os 160.000 quilómetros quadrados em litígio de Essequibo, atualmente controlados por Georgetown.

O ministro venezuelano também confirmou que o Brasil participará no encontro de São Vicente e Granadinas, embora não esteja claro se estará presente o Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, ou algum responsável de “alto nível” em seu nome.

Quanto ao papel que Lula desempenhou para que esta reunião fosse acordada, Gil disse que foi “determinante”, afirmando que Maduro conversou com o chefe de Estado brasileiro “sobre a necessidade de diálogo” e que “tudo deve resolver-se com diálogo”, sem mencionar “o aspeto prático” da disputa.

A polémica agravou-se depois de o povo venezuelano ter aprovado em referendo unilateral, a 03 de dezembro, a anexação da Guiana de Essequibo, tendo o Governo de Maduro ordenado o destacamento de uma divisão militar para junto à zona em disputa, até agora sem incursões no território guianês.

Yván Gil indicou também hoje que o Governo venezuelano mantém “em marcha” o seu plano de concessão de licenças para a exploração petrolífera na zona disputada com a Guiana, onde já operam empresas autorizadas por Georgetown, que administra o território em disputa.

“A [empresa petrolífera estatal] PDVSA e a Corporación Venezolana de Guayana (CGV) estão a trabalhar na elaboração do processo, dos mapas, de tudo o que tem que ver com os requisitos para uma concessão e para o trabalho técnico que está em curso”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros à imprensa em Caracas.

Na terça-feira passada, Maduro anunciou a concessão “imediata” de licenças para a exploração de petróleo, gás e minas no território disputado, no âmbito do plano da Venezuela de anexar unilateralmente a zona, que não controla desde 1899.

Apesar de não ter havido qualquer progresso a este respeito, Gil afirmou que a questão do petróleo será, apesar do anterior anúncio de Maduro, uma das questões em discussão com Irfaan Ali em São Vicente e Granadinas na quinta-feira.

O MNE disse que a Venezuela “está disposta a procurar fórmulas de desenvolvimento partilhado” com os países das Caraíbas em matéria energética, sem explicar se está aberta a explorar em conjunto com a Guiana os 160.000 quilómetros quadrados de Essequibo.

“Não posso antecipar-me, porque estamos agora a começar um diálogo, mas posso dizer, com base na história, que a Venezuela tem elementos que realmente comprovam a sua vontade, a sua política, a sua diplomacia, a sua intenção de integração”, sustentou, apesar de o país já ter decidido unilateralmente anexar a área em disputa, para a qual Maduro já nomeou, até, uma autoridade única para administrar o território.

Gil criticou que, desde 2015, a Guiana se tenha “negado a falar” com a Venezuela sobre as concessões petrolíferas nessa zona, mas saudou o facto de “na quinta-feira se iniciar precisamente essa conversa”, na reunião presidencial promovida pelo Brasil e pela Celac.