“A demolição é um absurdo que espoletou o dever cívico inteligente de manter o Coutinho como prédio habitacional”, afirmou hoje à agência Lusa o arquiteto formado pela Escola de Belas Artes da Universidade do Porto.
O edifício de 13 andares, que já chegou a ser habitado por 300 pessoas, está situado em pleno centro histórico da cidade e tem demolição prevista desde 2000, ao abrigo do programa Polis, para ali ser construído o novo mercado municipal.
O processo está suspenso desde janeiro a aguardar decisão judicial da providência cautelar movida pelos últimos 14 moradores do prédio Coutinho.
“É crime público. É uma coisa tão visível. Deitar abaixo habitação num país tão pobre como o nosso. É uma coisa tão criminosa que é um dever cívico uma pessoa lutar pelas coisas em que acredita. Acredito que não deve ser demolido o prédio Coutinho num país que tem falta de habitação e tem falta de dinheiro”, sustentou Maia Pinto.
O autor e subscritor da candidatura, formalizada junto da Direção-Geral do Património Cultural e subscrita por” um grupo de cidadãos e moradores, evoca um conjunto de critérios objetivos suportados na lei”, como “o interesse do bem como testemunho simbólico e a conceção arquitetónica, urbanística e paisagística”.
Entre os signatários da candidatura constam nomes como os de Manuel Monteiro, professor universitário e antigo presidente do CDS-PP, Joaquim Letria, jornalista, José Ribeiro e Castro, advogado e antigo presidente do CDS-PP e Jorge Estrela Ribeiro de Melo, professor catedrático.
A “extensão do bem e o que nela se reflete do ponto de vista da memória coletiva e as circunstâncias suscetíveis de acarretarem diminuição ou perda da perenidade ou da integridade do bem”, são outros dos argumentos que integram o pedido de classificação.
Questionado pela Lusa sobre as razões que o levaram a avançar com o pedido de classificação, Maia Pinto explicou tratar-se de uma “questão nacional”.
“Não é uma questão paroquiana. Também não tinha nenhuma ligação a Pedrogão Grande e a Pinhal Novo e aquilo ardeu e houve um clamor nacional que se levantou exigindo novas condições, que não se repita. Isto é um clamor nacional, não estamos a falar da paróquia, estamos a falar do país”, referiu.
O documento refere que o edifício “tem raízes sociais e culturais evidentes e importantes para um período histórico da região”.
“O Prédio Coutinho, projetado pelo arquiteto Eduardo Coimbra de Brito, constitui um dos exemplares mais significativos da transição dos conceitos de gestão e reabilitação urbana adotados pelo Estado Novo para os conceitos a serem aplicados no pós 25 de Abril”, adianta.
Segundo aquele grupo, “a candidatura encontra suporte técnico e legal em vários artigos, quer da Constituição da República Portuguesa, quer da Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitetónico da Europa, assim como no Tratado da União Europeia, na Recomendação de Paris, entre muitos outros”.
Sustentam que a sua demolição “implica, por si só, a destruição de um património edificado, sem qualquer indício de risco para a segurança de pessoas e bens que se pode estimar em valor superior a trinta milhões de euros”.
A empreitada de demolição do prédio Coutinho foi lançada a concurso público no dia 24 de agosto de 2017, por 1,7 milhões de euros, através de anúncio publicado em Diário da República. Em outubro, a VianaPolis anunciou que a proposta da empresa DST – Domingos da Silva Teixeira venceu o concurso por apresentar a proposta mais favorável, orçada em 1,2 milhões de euros.
A Lusa contactou a Câmara de Viana do castelo que se escusou a comentar o assunto.
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