Numa declaração na sede da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen agradeceu “calorosamente” o trabalho “incansável e bem-sucedido” do comissário irlandês Phil Hogan, que se demitiu na quarta-feira à noite, ao cabo de vários dias de polémica, após ter sido tornado público que violou as regras de saúde pública em vigor na Irlanda para conter a covid-19, designadamente ao participar num jantar com mais de 80 pessoas.
“Nas atuais circunstâncias, em que a Europa luta para reduzir a propagação do coronavírus e os europeus fazem sacrifícios e aceitam restrições dolorosas, eu espero que os membros do colégio sejam particularmente vigilantes relativamente ao respeito das regras ou recomendações nacionais ou regionais aplicáveis” no quadro da crise da covid-19, sublinhou.
Von der Leyen, que na quarta-feira à noite aceitara o pedido de demissão de Phil Hogan, deixou todavia palavras de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido pelo comissário irlandês, não só no seu colégio, desde o final de 2019, como também no anterior, liderado por Jean-Claude Juncker (2014-2019).
“Estou muito grata a Phil Hogan pelo seu trabalho incansável e bem-sucedido enquanto comissário e membro do colégio, e agradeço-lhe calorosamente pelo seu contributo valioso para o trabalho da Comissão, não só neste mandato, mas também no anterior, durante o qual foi comissário responsável pela Agricultura e Desenvolvimento Rural”, apontou.
Lembrando que, de acordo com o Tratado, “cabe agora à Irlanda apresentar candidatos adequados para ocupar o posto de comissário de nacionalidade irlandesa”, Von der Leyen adiantou que, “tal como no passado”, no processo de constituição do seu colégio, convidará o governo irlandês a “propor uma mulher e um homem” para o posto de comissário ou comissária, sem a garantia de que a Irlanda manterá o pelouro do Comércio.
Ursula von der Leyen anunciou então que o vice-presidente executivo responsável por “Uma Economia ao Serviço das Pessoas”, o letão Valdis Dombrovskis, “vai assumir interinamente a responsabilidade por assuntos de Comércio”, e revelou que só numa fase posterior decidirá “sobre a distribuição final de portfolios no colégio de comissários”.
Na quarta-feira à noite, Phil Hogan apresentou a sua demissão, por considerar que “estava a tornar-se cada vez mais claro que a controvérsia” relativa à sua recente visita à Irlanda “estava a ser uma distração” do seu trabalho como comissário europeu e iria afetar o seu papel “nos importantes meses que se seguiriam”.
Esta é a primeira ‘baixa’ no colégio de comissários que entrou em funções no final do ano passado e vem no seguimento do caso designado como ‘Golfgate’, um polémico jantar organizado por um clube de golfe irlandês que juntou mais pessoas do que as permitidas pelas autoridades irlandesas para ajuntamentos em altura de pandemia.
O irlandês Phil Hogan visitou o seu país entre 31 de julho e 21 de agosto e, na quarta-feira da semana passada, participou num jantar de comemoração dos 50 anos do clube de golfe do parlamento irlandês, com 82 convidados, entre os quais o então ministro da Agricultura, Dara Calleary, que se demitiu do cargo na sexta-feira.
Com uma carreira política de cerca de 40 anos, Phil Hogan, de 60 anos, ocupou o cargo de ministro do Ambiente da Irlanda entre 2011 e 2014 e, antes, foi eleito para o Parlamento irlandês de 1987 a 2014.
Mais recentemente, e antes de assumir a pasta do Comércio, foi comissário europeu da Agricultura no anterior colégio liderado por Jean-Claude Juncker.
Pressionado internamente na Irlanda para apresentar a sua demissão — pelo primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, e pelo vice-primeiro-ministro, Leo Varadkar –, Phil Hogan esteve no centro de outra polémica por ter sido apanhado ao telefone pela polícia enquanto conduzia, dois dias antes do jantar.
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