“A polícia invadiu a casa do morto. Eu estava na porta. Empurraram a porta e depois corri para a sala e depois a senhora (viúva) levantou a fotografia (de Odair Moniz)“, declarou Delfina, moradora no bairro do Zambujal, à agência Lusa.
Esta testemunha mostrou à Lusa um ferimento no braço esquerdo, alegadamente por ter tentado fechar a porta aos “agentes da polícia”.
A vizinha de Odair Moniz disse ainda que se dirigiu ao apartamento para apresentar os pêsames à família.
“Não sei a que horas foi”, afirmou referindo-se à noite de terça-feira.
“Isto é muito triste”, lamentou Delfina visivelmente perturbada com os acontecimentos das últimas 24 horas. Outros vizinhos disseram também à Lusa que a polícia "invadiu" a casa, mas sem se identificarem.
Questionada pela Lusa, fonte da PSP negou que a PSP tenha entrado na casa da família da vítima.
Em comunicado, a direção nacional da PSP esclarece que a polícia entrou apenas numa casa em apoio aos bombeiros.
“Relativamente à notícia veiculada de entrada de polícias em habitações no Bairro do Zambujal, a polícia informa que ocorreu apenas a entrada numa casa, que não a que está referida nas notícias veiculadas [casa da vítima mortal], em apoio aos Bombeiros Voluntários da Amadora, que se deslocaram ao local para apoio médico a uma criança e por solicitação da família”.
A PSP “nega categoricamente o arrombamento de quaisquer portas”.
Também o Bloco de Esquerda (BE) questionou hoje o Ministério da Administração Interna sobre uma alegada invasão pela PSP da casa de Odair Moniz, baleado mortalmente na madrugada de segunda-feira na Amadora, pedindo esclarecimentos sobre o episódio relatado pela família e advogada.
Na pergunta, dirigida à ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, é referido que vários órgãos de comunicação social divulgaram que “a casa da família de Odair Moniz foi invadida, na noite de ontem [terça-feira], por agentes da PSP encapuzados e fortemente armados”.
“Segundo foi relatado, seriam cerca de 15 os agentes que se aproximaram do apartamento e arrombaram e destruíram a porta, tendo três dele entrado na casa. Já no interior, os agentes terão destruído mobília e agredido duas pessoas, uma rapariga de 19 anos e um amigo da família estava no interior. Terá sido a companheira de Odair quem conseguiu que os agentes saíssem do apartamento, sendo que a PSP terá voltado cerca de uma hora depois. Nessa altura, já a advogada da família se encontrava no apartamento”, lê-se no texto.
Na pergunta, assinada pelo líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, é acrescentado que “de acordo com a advogada da família de Odair, os agentes não se encontravam identificados e não exibiram qualquer mandado judicial para a realização desta diligência”.
Três pessoas foram detidas na terça-feira, duas das quais por incêndio e agressões a agentes policias, na sequência dos desacatos após a morte de um homem baleado pela PSP na Cova da Moura, Amadora, disse fonte policial.
Os desacatos têm sucedido desde segunda-feira e espalharam-se na noite de terça-feira a várias zonas de Lisboa, nomeadamente Carnaxide (Oeiras), Casal de Cambra (Sintra) e Damaia (Amadora).
Odair Moniz, de 43 anos, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
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