Presente pela primeira vez na cimeira tecnológica, que regressou este ano a um modelo presencial a Lisboa, o responsável da extinta ‘task force’ atraiu mais de uma centena de curiosos para a sua sessão e confessou-se algo “cansado” dos elogios pelo seu trabalho, que recusou ser obra de apenas “um homem”, partilhando os louros do processo com a “comunidade”.

“Penso que o aspeto mais difícil foi comunicar para ter toda a gente alinhada [com o processo de vacinação]. Usei uma retórica de guerra em que o vírus era o inimigo, em que ou a pessoa estava connosco ou com o vírus. Penso que este plano de comunicação foi importante para as pessoas perceberem que não podiam ficar em casa sem vacinação”, frisou, sublinhando: “Isto é uma guerra com um vírus mortífero e não se pode ser neutral com um vírus”.

Entre as muitas perguntas da audiência, tanto de portugueses como de estrangeiros, o antigo coordenador da ‘task force’ foi confrontado com a proliferação de grupos antivacinas na sociedade e o seu impacto em termos mediáticos. A este nível, Gouveia e Melo considerou os disseminadores de propaganda antivacinação como “falsos profetas” das redes sociais.

“A desinformação é sempre má, espalham-se mentiras ou dados não provados nas redes sociais e criam-se bolhas de obscurantismo. Estas situações afetam as soluções na gestão de uma pandemia”, observou o anterior responsável pela ‘task force’, que revelou estar a escrever um livro sobre a sua experiência à frente do processo.

Segundo Gouveia e Melo, a experiência de coordenação do plano de vacinação contra a covid-19 foi equiparada a “uma campanha militar”, na qual “o vírus era o inimigo de todos”. Questionado sobre as razões do seu sucesso na missão de coordenação, o vice-almirante foi direto na resposta: “Porque não sou um político”.

Paralelamente, defendeu que as alterações climáticas poderão tornar pandemias como a da covid-19 “mais comuns e espalhadas pelo globo”. Entre os fatores decisivos para uma resposta efetiva, Gouveia e Melo destacou a “tecnologia” e a “coordenação”, valorizando esta última como essencial para melhorar a resposta a uma escala mundial e não somente nacional.

“Vacinámos 86% e continuamos a vacinar, mas não é muito ético, porque cada ser humano é importante. De um ponto de vista estratégico, isto também não é bom, porque podemos ganhar esta batalha aqui e perder a guerra, sofrendo depois um efeito ‘boomerang’. Temos de aprender a detetar e a reagir muito rapidamente, sem esconder nada”, notou.

Por fim, o vice-almirante não excluiu um hipotético regresso às funções de coordenação do processo de vacinação pela sua condição de militar: “Direi que sim até sair deste uniforme. Obedecerei ao governo, é a minha condição de militar. Faço-o e não há questão, é a minha forma de ver as coisas”.

“Rosto” da 3.ª dose da vacinação deve vir do ministério

Questionado o rumo da terceira fase de vacinação, em que Portugal apresenta ainda números reduzidos de cobertura vacinal, depois do sucesso no processo de administração das duas doses previstas no esquema vacinal de três das quatro vacinas autorizadas, o vice-almirante não quis tecer considerações

“Vou escusar-me a fazer comentários sobre isso. Estive encarregue de um processo e como militar só falo sobre o que me encarregaram; fora disso, já entramos num campo que não é só de realização do meu trabalho e de considerações até do foro político”, disse.

Já sobre o peso que a ausência de um rosto identificável à frente do processo – à imagem do que sucedeu no seu caso entre fevereiro e setembro de 2021 - pode ter na adesão dos grupos da população já elegíveis para a toma da terceira dose da vacina, Gouveia e Melo atirou esse papel para a tutela governativa da Saúde.

“Esse rosto deve ser encontrado dentro do Ministério da Saúde, porque o processo é conduzido pelo Ministério da Saúde, como deve ser conduzido”, assinalou.

Muito procurado por estrangeiros para explicar as razões por detrás do processo nacional de vacinação contra a covid-19, o vice-almirante vincou não haver segredos e passar somente a sua experiência pessoal, mostrando dificuldades em ver uma ‘exportação’ do modelo português de resposta à pandemia com a vacinação.

“Todos os modelos militares de gestão de crises são muito parecidos. Não sei dizer se é exportável… em termos genéricos é exportável, porque a liderança militar tem características próprias para trabalhar na incerteza, muito focada e com uma organização vocacionada para a ação, mas as pessoas também contam. Tive a sorte de ter um grupo fantástico comigo e isso ajudou-me imenso”, concluiu.

A Web Summit decorre entre 01 e 04 de novembro em Lisboa, em modo presencial, depois de a última edição ter sido ‘online’ e a organização espera cerca de 40 mil participantes, segundo revelou, em setembro, Paddy Cosgrave, presidente executivo da cimeira.

A comediante Amy Poehler, o presidente da Microsoft Brad Smith, a comissária europeia Margrethe Vestager e o jogador de futebol Gerard Pique irão juntar-se aos mais de 1.000 oradores, às cerca de 1.250 'startups', 1.500 jornalistas e mais de 700 investidores, numa cimeira na qual serão discutidos temas como tecnologia e sociedade, entre outros, de acordo com a organização.

Apesar do número previsto de visitantes ser este ano cerca de menos 30 mil do que na última edição presencial, em 2019, as autoridades consideram que se trata do "maior evento de 2021" a ter lugar em Lisboa.

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